CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Rocky Dennis (Eric Stolz) e Diana Adams (Laura Dern), a garota cega

MARCAS DO DESTINO, narra a cinebiografia do jovem Roy L. ‘Rocky’ Dennis (1961-1978), (vivida na telona pelo excelente ator americano Eric Stoltz). Rocky sofre de uma rara deformidade facial, (síndrome de Crouzon), já retratada em outro filme, O Homem Elefante (1980), por David Lynch. Mas, a doença não o impede de ser bem humorado e extrovertido. Rusty, a mãe viciada em heroína, luta com unhas e dentes para que a sociedade o aceite exatamente como ele é. Portanto, Marcas do Destino é um drama emocionante, tocante, que foge às emoções vulgares, exploradas em filmes similares.

Dirigido por Peter Bogdanovich, diretor americano participante da geração de diretores/realizadores da chamada “Nova Hollywood”, ou ainda, movie brats, (na qual estão incluídos William Friedkin, (O Exorcista), Brian DePalma, (Os Intocáveis), George Lucas (Star Wars), Martin Scorsese (Taxi Driver), Steven Spielberg (Tubarão, A Lista de Schindler), Michael Cimino (O Franco Atirador) e Francis Ford Coppola (The Godfather I, Apocalypse Now). O filme mais conhecido do diretor Bogdanovich, depois de Marcas do Destino, é A Última Sessão de Cinema, cuja história é conhecida por envolver dois adolescentes que crescem juntos, iniciam a vida sexual junto e numa única sessão de cinema de uma cidade do Texas, Estados Unidos, nos anos 1950, época da Guerra da Coreia. A amizade dos dois sofre um grande abalo quando ambos se apaixonam pela mesma garota.

MARCAS DO DESTINO é um filme sobre a diferença. Mas, afinal, o que é ser diferente? A discussão é tão constante na contemporaneidade, parte da agenda de setores diversos da vida cotidiana. Falamos disso no âmbito da literatura, do cinema, da psicologia, da educação, da política e de tantos outros “ambientes” que a lista completa apresentaria numerosos caracteres. A diferença, entretanto, delineada ao longo dos 120 minutos do filme em questão trata da narração de uma trajetória bastante peculiar: a saga de uma mãe que precisa lidar com o preconceito e a ignorância diante das pessoas que não entendem a “diferença” do seu filho, um jovem que possui uma doença rara e por isso, é motivo de chacota, descrença e outros problemas que compõem o painel de celeumas da vida em sociedade.

O ponto de partida é numa fase já avançada da vida do garoto. Ele é muito inteligente e perspicaz, mas o diretor da escola em que estuda se nega a matriculá-lo normalmente, alegando que ele deveria ser ajustado numa turma de educação especial. Florence Dennis (Cher) é o seu equilíbrio. Dedicada, ela consegue a matrícula na escola pública, mas sofre os preconceitos já esperados por uma mãe que tem um filho com “deficiência” ou qualquer apresentação que esteja fora dos padrões fixados pela sociedade. Essa é apenas uma das brigas de sua mãe, uma mulher obstinada a enfrentar qualquer peça do sistema para conseguir dar dignidade a cada minuto de vida do filho. As previsões do diretor não condizem com o trajeto, pois o jovem consegue terminar o colegial e arruma o seu primeiro emprego, um cargo de monitor de um acampamento, local responsável por promover a única paixão de sua vida, a bela Diana (Laura Dern), uma garota cega que também se apaixona pela singularidade de Roy, um jovem extremamente delicado e inteligente.

Ao longo do filme, podemos ver como Rocky tenta quebrar os preconceitos entre os colegas de escola, sua luta para fazer a mãe se livrar do vício e viver uma vida normal, assim como ele tenta viver e também podemos notar que, assim como uma pessoa normal, ele busca incansavelmente realizar seus sonhos, mesmo que estes pareçam ser impossíveis devido às suas limitações.

Lançado em 1985, Marcas do Destino é um drama edificante, que foge às emoções vulgares, comuns aos filmes desse estilo. A história não entra em outros detalhes, mas a história de Roy é muito conhecida fora da ambientação fílmica, pois o seu caso raro mexeu com a comunidade médica e levantou debates que extrapolam a ficção. Desenganado ainda quando tinha dois anos, sob a promessa que não passaria dos quatro anos de idade, o jovem Roy lutou o quanto pôde e viveu até os dezesseis anos.

A sua mãe, um exemplar perfeito de um ser humano comum, sem heroísmos fajutos, e por isso, repleta de erros e acertos em suas escolhas, sem a composição essencialista maternal típica hollywoodiana, é um modelo adequado para a composição de um equilibrado desenvolvimento de perfil e necessidade dramática de um personagem. Cher, em uma das suas atuações mais brilhantes, consegue alavancar tais qualidades, ao entregar um excepcional desempenho dramático.

O filme termina com Rusty visitando seu túmulo de Roy, deixando flores e alguns cartões de beisebol ao lado de sua lápide e uma narração do próprio Rocky, que recita o poema que havia escrito para a aula de inglês e que o garoto havia mostrado para sua mãe previamente num momento do filme.

a) Marcas do Destino – cena do acampamento

b) Marcas do Destino – cena dois do acampamento

4 pensou em “MASK (1985) – (MARCAS DO DESTINO) – UM FILME COMOVENTE

  1. “Nova Hollywood” ou ainda, movie brats… Em um JBF a soltar velhinhos pelo “ladrão”, alguém estará a sentir uma necessidade de “Um novo Jornaleco?”

    Mask não se inclui dentro do tipo de filme (ah, as tragédias humanas)) que me faz ir ao cinema ou à pipoca sofasiana (o que seria do verde-amarelo se todos só gostassem do vermelho?).

    Como é recomendação cicerina, para os que gostam de “ninjas cortadores de cebolas”, eis prato cheio, que educadamente recusarei. I vamu qui vamu, bagomoleante Ciço, lanterninha do cine JBF.

    Nestes friorentos tempos bicudos já ando muito a chorar só ao olhar para o vazio quadro de encomendas cocoleiras, pois anda a ser mais fácil achar uma virgem no cabaré da sua Maria do que pedidos de cocos na agenda sanchiana, meu caro Ciço. Mas (venturoso mas), “andá cum fé eu vô qui a fé num custuma faiá”.

    Está sobrando tanto tempo que até ando arriscando um tricô e crochet sob orientação de minha sogra. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    • Querido Sancho

      Nesses tempos de vazio westernianos, da época de ouro de John Ford, Sergio Leone, Fred Zinnemam, John Sturges, Sergio Corbuci e tantos outros diretores que sabiam dirigir, gosto de escrever, aqui, acolá, sobre esses filmes que param uma época,, não por serem merecedores dos oscars, mas por terem se destacados dos outros e se tornados arrecadadores de milhões de dólares.

      Mas o de que gosto mesmo é de escrever sobre Maria Bago Mole, uma mulher de fibra, que nunca baixou a cabeça para ninguém, nem para seu amado, Bitônio Coelho, seu amor eterno.

      No próximo capítulo ela vai se envolver – indiretamente – na política em benefício da circunvizinhança do cabaré. Vão surgir hospitais, praças, comércios, ruas rasgadas, tudo isso porque ela conquista a simpatia do prefeito Neo Maguary, outro coronel rico e poderoso que se torna prefeito de Carpina.

      Abraçaço

  2. Caro Cícero
    Você, com suas crônicas cinematográficas, tomou o lugar do nosso amigo Altamir Pinheiro e suas crônicas do “Velho Oeste americano”. Assim, ampliou o leque de filmes para além do Cow-Boy e mantém nossa memória afetiva com o Cinema.

    Agora nos apresenta “Marcas do Destino”, um dos grandes clássicos do Cinema.

    Grato Cicero Sincero por estas boas crônicas.

    • Estimado Brito,

      De vez em quando eu organizo umas coisas para a gente se divertir, enquanto não vem o cumpade Altamir Pinheiro.

      Adoro filme de faroeste, principalmente os clássicos! Hoje o western está reduzido à pirotecnia feito os buscapés de São João que, aliás, fazem mais graças.

      Abraçaço, grande memorialista do JBF!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *