CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Em uma noite festiva como nunca se via naqueles tempos no Nordeste, início do Século XX, a cafetina mais famosa e charmosa daquela região, que fundou O Cabaré de Maria Bago Mole, referência regional, escolheu perder o cabaço para o coronel Bitônio Coelho, o fazendeiro mais respeitado da Zona da Mata Sul de Carpina (PE), num dia de sábado, lua cheia, sem nuvens, sem chuvas, e o povo comemorando os festejos juninos à beira das fogueiras, soltando traques, busca-pés, peidos de veia, bombas caseiras e muita comida feita a base de milho, à mesa.

Era mês de São João, tempo em que tudo respirava festa, rela bucho iluminado por candeeiro e lamparina, alegria no vilarejo, com muita fartura de pamonha, canjica, milho assado na cozinha da mesa do povo da Vila dos Vinténs. Nesse dia o cabaré estava em festa, com tudo sobre o controle da cafetina que não deixava nada dar errado. As meninas enfeitadas sem excesso de maquiagem, sem a aparência das garotas do Natanael, do cabaré do filme Django.

À noitinha chega ao cabaré o coronel Bitônio Coelho, montado em seu cavalo alazão branco todo serelepe, os pelos brilhando no reflexo das lamparinas instaladas por Maria Bago Mole nas janelas no térreo do cabaré. Como sempre costumava fazer, para não ter aborrecimentos depois, a cafetina reuniu as dezoito meninas no quarto do aposento dela, e as alertou, depois de consultar-lhes, uma a uma, a maquiagem.

– Trate bem dos seus homens. Não os deixem faltar nada. Deixe-os usufruir de todos os prazeres da carne e da bebida. Ofereçam muita comida e bebida. Não se esqueçam que quando chegam aqui os homens estão atrás de diversão e prazeres e procuram encontrar em vocês. Não se neguem a dar. Não se esqueçam que o sucesso “da casa” depende de vocês que são o produto almejado por eles. Vigiem tudo. Qualquer malquerença que houver revolva na conversa, no diálogo e, se mesmo assim, houver excesso no parceiro, leve-o para o quarto, tranque a porta, tire a roupa pela metade, mostre seus atributos sensuais e, depois, seja lá o que deus quiser, porque homens gostam de atenção. Eu vou estar ocupada com o meu amor nos nossos aposentos. Hoje eu vou dar o que nunca dei a ele, com as duas janelas abertas e a lua iluminando nossos desejos.

Depois desse bate papo com as meninas, Maria Bago Mole ainda sondou todo o cabaré, checou detalhes por detalhes das comidas e bebidas da despensa, verificou se estava faltando alguma coisa, desejou sucesso e diversão a todos os presentes e se mandou para os aposentos, onde já esperava por ela, todo tímido e desajeitado, o homem mais cobiçado e respeitado da Zona da Mata Sul da Região de Carpina (PE).

Apaixonadíssimo pela cafetina e sem poder esconder o nervosismo, Seu Bitônio Coelho deixou escapar alguns segredos de alcovas. Como se comportar sem roupa, nu, ante a mulher amada? Se beijasse a cafetina, e por onde começar as preliminares? Tantas eram as dúvidas e o nervosismo que o coronel a pediu para apagar a lamparina para mergulhar por baixo do lençol e a cafetina não o olhasse nu.

Nesse momento, com toda sua experiência lidando com homens no cabaré sem se envolver com nenhum dele, Maria Bago Mole, chamou o feito à ordem, pegou nas mãos do coronel, arrancou-lhe o pijama e começou a lhe fazer as preliminares para intumescer os desejos.

Com menos de meia hora de excitação, Seu Bitônio Coelho, já estava relaxado e pronto para viver com a cafetina os desejos de um homem. Antes de ele a possuir, ela o beijou por todas as partes, fez barba, cabelo e bigode. Feito isso, perguntou-lhe o que estava sentindo.

Ao que ele respondeu:

– Nada do que eu pensava do sexo, – e beijou sua amada na boca com um beijo tão ardente que ela sentiu sufocada, mas nada disse. Foi assim até amanhecer o dia com o sol avisando que as estrelas já tinham se ido.

9 pensou em “MARIA BAGO MOLE ROMPE O CABAÇO NA VÉSPERA DE SÃO JOÃO

    • Estimado Xico,

      Pessoas inteligentes e educadas são pessoas serenas, precavidas, não dão um passe a diante sem antes medirem as consequências desses atos, se prejudiciais ou não.

      Com Maria Bago Mole era assim, segundo me relata meu irmão mais velho, adorador de suas crônicas curtas, aposentado e vivendo em Sergipe.

      Relata-me ele que Maria Bago Mole tinha o dom da persuasão, e media milimetricamente cada passo, para não prejudicar a ela ou com quem com ela estive.

      Formou um patrimônio invejável, mas antes de se encantar dou tudo aos necessitados que ela, em vida, já ajudava.

      Abraçaço, estimado poeta.

  1. Pegou mal para o poderoso coroné mandar: (…) apagar a lamparina (…) para mergulhar por baixo do lençol e a cafetina não o olhasse nu…

    Diz Ciço que Maria “media milimetricamente”…

    kkk teve o coroné famosa e teível síndrome do pinto pequeno. kkk

    • Pode ser,que sim e pode ser que não
      Caro Sancho, não seja maldoso.
      Tudo depende da ocasião.
      Quem sabe o Coroné não queria apavorar a Bago Mole ?
      Se ele mostrasse as suas armas antes da luta e se essas armas fossem de poder avantajado, a pobrezinha da Maria B.M. poderia ficar muito assustada e ensaiar um
      chilique,, mas sempre de olho aberto, que ela não era besta de enfrentar uma arma poderosa, assim de sopetão
      sem amaciar as suas defesas e ajeitar com muita
      graxa as entranhas oferecidas \na sua retaguarda.
      Estranhas coisas acontecem nas alcovas putíferas
      em Cabarés do sertão. O nosso Ciço, criador. pai, artesão e perito construtor de personagens inesquecíveis
      ainda tem muito a mostrar e contar para o povo todos
      os acontecimentos intímos, pré cabaré que a sua personagem viveu e pretende contar para todos os seus leitores ávidos de ouvir sacanagens putííeras.
      Ouvi até dizer que um dia podemos esperar um livro
      sobre o assunto, livro esse que eu faço questão de ser
      convidado à escrever o prefácio.
      Ele me prometeu que vai publicar aqui, todos os
      acontecimentos vividos pela Cafetina, antes e depois
      da abertura do Cabaré, pois a sua Musa, Maria Bago Mole, está aguardando receber a sua “Auto Biografia ”
      que ela mandou escrever por um personagem muito
      famoso, nordestino, figura ilustre da cidade de Palmares
      PE. Em Palmares tudo pode acontecer, lembram-se
      daquela estória do Santo pretim que foi pego fazendo
      safadezas, na Coreia, atrás do muro do cemitério numa noite de Lua Cheia ? Essa estória foi contada em
      detalhes pelo grande escritor Palmerense, Luiz Berto .Pernambucano e publicado em um livro de grande sucesso com o título ” A PRISÃO DE SÃO BENEDITO ”
      Narrando fatos verdadeiros, conforme o autor me garantiu
      na dedicatória do livro que me enviou de presente.
      São dezenas de estórias hilárias que se fossem
      filmadas, daria uma série de grande sucesso.
      Vou parar por aqui, visto que eu, Carioca de nascença, radicado agora aqui no Sudeste SC, quando começo a
      falar e ou a escrever sobre o nordeste não tenho
      vontade de parar.
      Pudéra, acabei de assistir pela centésima vez ao magnifico
      filme ” O auto da compadecida ” e fiquei zonzo com tanta genialidade e criatividade.
      Mas….. Resistir….quem há de !

      • Obrigado, estimado D.Matt., por tão magnífico discurso.

        Você me lembro Abraham Lincolm, repetindo um pastor no filme Lincoln: “podia escrever discursos menores, mas tenho preguiça de parar.”

        Obrigado, mestre d.matt., pelas considerações. Muito mais do que eu, onde ela estiver em outro plano, Maria Bago Mole está agradecendo e ansiosa por ver sua história contada em livro, já que publicada em pedaço, no JBF, já está.

  2. Ciço, meu bom compadre: eita, cabra bom o coroné! Só fico imaginando como uma freira como a Maria Bago Mole sabia tanta coisa sendo virgem!!!
    Pelo menos perdeu suas pregas com seu grande amor.
    Belo texto, meu brother.
    Tenha um excelente feriado.
    Grande abraço,
    Magnovaldo

    • Estimado amigo do coração!

      A cafetina já o conhecia por dentro e por fora, como se dizia por aqui na época, das muitas vezes que os dois se encontraram nos aposentos, mas que não puderam fazer nada porque a freguesia do cabaré não deixava.

      Ela já conhecia o tamanho da cobra, ficava alegre, mas nada dizia ao coronel, porque sabia que era um presente de tamanho certo para os sonhos dela…

      Depois eu conto esse capítulo, que vai provocar concordar entre os admiradores dela.

      SANCHO não perde por esperar “a história.” Kkkkkkkkkkkkk!

  3. Parabéns, querido cronista Cícero Tavares, pelo excelente capítulo, sobre a noite de núpcias de Maria Bago Mole e o Coronel Bitônio Coelho!
    Com sua paciência de Jó, Coronel Bitônio Coêlho retardou a consumação da sua união carnal com Maria, preparando para eles uma noite de núpcias festiva e especial, numa demonstração de respeito à mulher amada.

    Mesmo com a experiência de vida que a própria vida lhe deu, Maria era uma mulher romântica e sonhadora. Não deixava a chama da paixão entre ela e Bitônio Coelho se apagar e procurava não banalizar o amor..
    Nota mil para essa mulher empreendedora e sonhadora, que jamais perdeu a doçura e a feminilidade!

    Grande abraço e bom final de semana!.

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