Carruagem semelhante à que Maria Bago Mole viajava
Chegada de uma viagem cansativa feita à região de Palmares na carruagem puxada por dois cavalos mangas-largas comprados por Seu Amado, o coronel Bitônio Coelho e dados de presente no dia do seu aniversário para executar “serviços” extras, a cafetina mais famosa do Cabaré da Zona da Mata Sul de Carpina (PE), do início do Século XX, trouxe consigo sete “meninas leite ainda” expulsas de casa pelos pais, após chantagem de namorados canalhas, difamando-as nos sítios das redondezas não serem elas mais cabaço.
A cafetina apeia os cavalos no pátio do bordel, desativa a carruagem, ordena as “meninas” que adentrem no cabaré e fiquem esperando por ela no seu aposento, toma conhecimento, por meio de duas veteranas que o comissário de polícia de araque da esquina do beco do urubu, Juvêncio Oião, teria chegado ao cabaré logo cedo com uns homens de sua laia, dispostos a fazer uma farra e obrigou as “meninas” da cafetina a prepararem o ambiente num cantinho reservado do bordel para realizar a “festa” porque, do contrário, “as coisas iriam ficar feia para o lado de Bago Mole,” de quem ele não escondia o ódio por ela “tê-lo preterido pelo coronel Bitônio Coelho.”
Disse Juvêncio Oião às “meninas veteranas” no pátio do cabaré, antes de se retirar com seus “policiais” a cavalo:
– Diga a sua “patroa”, assim que ela chegar de viagem, que prepare um lugar decente para nós dentro do cabaré, a altura da minha alteza, porque senão a cobra vai fumar e saguins vão beber água na caneca da onça.
Maria Bago Mole ouviu atenta o relato das meninas sobre a ameaça do comissário Juvêncio Oião. Não disse nada. Mandou as meninas se recolherem e continuar a fazer o que faziam sempre: trabalhar. Não comunicou nada a Seu Amado, Bitônio Coelho, já que ele teria lá seus problemas nas fazendas para administrar. Se as coisas ficassem pretas aí sim ela teria de acioná-lo e os capangas para darem um freio de arrumação nos ímpetos do comissário.
Quando o sol se pôs, Maria Bago Mole, com as meninas, já teriam posto a casa em ordem para receber os fregueses, inclusive Juvêncio Oião e sua “comitiva.” “No meu cabaré cabe todo mundo. Ele existe para isso.” Dizia ela às meninas quando fazia as “preleções” internas sobre algumas mudanças necessárias no salão do cabaré. Após organizar tudo, ela se recolheu ao aposento, pegou seu CO2 Remington 1875 – presente do amado – pôs no bolso extra do vestido e ficou aguardando o valentão, passeando pelos cantos da “casa” dum lado pra outro, fumando seu charuto “dannemann.”
Às dez horas em ponto, com o cabaré já fervilhando de homens ávidos por diversão e carne mijada, o comissário Juvêncio Oião e sua comitiva aportaram no cabaré e quando percebeu que sua ordem não fora cumprida pela cafetina, sacou do revólver que trazia na cintura e deu dois tiros para cima, assustando os fregueses no saloon, braveando no pátio do cabaré que ia haver “fogueira queimando naquela noite” caso sua ordem não fosse cumprida.
Sentindo o perigo rondando o cabaré porque conhecia o ódio do comissário a Bitônio Coelho, preocupada com a imagem da “casa” e a proteção dos fregueses, Maria Bago Mole mandou avisar às pressas a seu amado do perigo à vista, se escondeu num local estratégico do aposento com seu CO2 Remington 1875 em punho e muita bala num caixote, até seu amado chegar, e disse não à provocação do comissário Juvêncio Oião, que ficou uma fera pelo desaforo da cafetina, mas receoso duma carnificina com a chegada do coronel Bitônio Coelho galopando seu alazão branco, protegido por dez capangas cada um mais mal encarados do que o outro e armados de Winchester-1885.
Animal agressivo vai para eutanásia – refletiu Oião, recuou, e bateu em retirada do local com seus “puliciais.”
Eita, Ciço, meu bom compadre:
Suas histórias sobre a Maria Bago Mole são minha alegria da semana. Fico imaginando a cena, com um comissário “da puliça” botando o rabo no meio das pernas, baixando as orelhas e saindo de mansinho do bordel. É um destempero prá mais de metro!!!
Tenha uma excelente semana, cheia de saúde, paz e alegria.
Grande abraço,
Magnovaldo
Magnovaldo, meu irmãozinho, bom dia!
O que mais me fascina e admira nessa mulher são seu empreendedorismo e seu destemor, tudo isso numa época que a mulher só tinha valor se fosse puta desqualificada!
E ela impôs a sua marca, a inteligência e o destemor!
As pesquisas de Liêdo Maranhão, o maior sociólogo das putas e guengas, colhidas no Mercado de São José, no Recife Antigo, estão por aí para não me deixarem mentir.
Outra coisa que mais me admira nela, o que faltou e falta na maioria dos “homens do poder no Brasil”: coragem e liderança!
Breve vem mais façanhas dele inimagináveis para uma época que galinha tinha dente, como dizia minha Avó, Dona Dinda do Bundão!
Uma entradinha na sempre alegre “casa” de nossa musa MBM para encher o coração de felicidade e assistir, de camarote, o comissário “da puliça” Oião botando rabinho entre as pernas.
Juvêncio Oião e a definição de covarde, da lavra de Ambrose Bierce: “covarde, alguém que, numa situação perigosa, pensa com as pernas”.
Braçação, mestre Cição e beijão na Maria.
MBM, quando responde às meninas: “No meu cabaré cabe todo mundo. Ele existe para isso, até Juvêncio Oião é bem vindo, desde que seja para se divertir, será bem recebido”, mostra a personalidade dessa mulher que, que já no início do Século XX, possuía o que Vovó Dinda do Bundão chamava a xereta dela de “roxo, mas destemido! Enfrenta qualquer pau!”
Eita mulherona! Ah! uma dessa hoje candidata à presidência da República para enfrentar o canalha de Nove Dedos e os nove sex appeal do stf.
Abraçaços, Irmão Karamazov!
Parabéns pela excelente crônica, querido Cícero Tavares!
Achei ótimo você trazer à tona a figura emblemática de MBM, mulher empreendedora e corajosa, que, com o “socorro” prestado por seu grande amor, Bitônio Coelho, botou pra correr da sua “casa de diversão”, o Comissário Juvêncio Oião e seus capangas..
É impressionante a bravura dessa mulher! .
Grande abraço!
hELLO,
nICE SITE VERY GOOD ,