CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Casa sede à semelhança a da fazenda do coronel Bitônio Coelho

Depois de ter tido uma noite inesquecível com Maria Bago Mole, a famosa cafetina que deu nome ao cabaré, o coronel Bitônio Coelho, o fazendeiro poderoso e mais durão da Zona da Mata Norte de Carpina (PE), retorna à fazenda, não mais contrariado por ter acordado fora do horário habitual, como da primeira vez que dormiu com a amásia.

Chegando à fazenda-sede por volta das onze horas da manhã, encontra todos os empregados apreensivos no pátio do casarão, pensando ter lhe acontecido alguma coisa grave, mas quando pressente o patrão não cabreiro nem contrariado apear o cavalo e mandar um dos capangas recolher a sela, calam-se e esperam a ordem do homem, que calado estava, calado ficou não informando nada sobre o acontecido, limitando-se apenas a ordenar aos subordinados as tarefas do dia, educadamente.

Depois de dar as ordens aos empregados, Seu Bitônio Coelho entra no casarão, abre as janelas e se dirige até as governantas na cozinha, dar-lhes bom dia, atitude impensável antes de conhecer a cafetina, retorna à sala, e começa a pensar em Maria Bago Mole, da noite inesquecível que tivera com ela, dos prazeres que ela lhe proporcionara e, além de sentir que estava apaixonado, começava a ter-lhe ciúmes, imaginando-a naquele cabaré cheio de homens doidos para lhe conquistar as delícias sentimentais e corporais!

Foi nesse momento que aquele homem durão, acostumado a lidar com vacas, cavalos brabos e capangas rudes, sentiu estar dominado por um sentimento jamais vivido em toda sua vida. Maria Bago Mole o havia domado o coração!

Da segunda para o sábado Seu Bitônio Coelho ficou absolutamente inquieto, sonhou com Maria Bago Mole todas as noites sempre nos braços de outros homens e acordava durante a noite todo suado, com o ciúme lhe dominando e sufocando o peito ao ponto de ele ficar irreconhecível!

– Meu Deus, o que está acontecendo comigo? – questionava a si!

Ansioso e só pensando em Maria Bago Mole, no sábado logo cedo, mandou o capanga Simeão Pau Preto pôr a sela no cavalo branco, vestiu sua calça e camisa de linho branco e, antes do anoitecer, se mandou para o Cabaré para se encontrar com a dona do seu coração!

Em lá chegando, veio-lhe uma tempestade de ciúmes por causa dos homens que cercava sua Amada que, quando o avistou, saiu correndo em sua direção:

– Oi amor! Estava com muitas saudades! Você não imagina a eternidade que foram esses dias sem você! E aplicou-lhe um beijo bem demorado! Pegou-lhe pelas mãos, tirou-lhe a sela do cavalo e o chamou para ficar com ela nos aposentos do cabaré, local onde tivera sua primeira noite de núpcias sob a luz de lamparina.

Se ele estava doido de paixão, mais apaixonado ficou, com o carinho, atenção e a dedicação dispensada por Maria Bago Mole, que lhe sabia dar o que ele nunca teve na vida: amor, prazer e liberdade!

Naquele sábado ficou com Maria Bago Mole novamente, e mais uma vez quando se levantaram já passava das dez horas do dia! Curiosamente o homem durão que ficou contrariado da primeira vez, se levantou relaxado, de bem consigo mesmo e deu um beijo na amada demoradamente. Foi até o sanitário do cabaré, tomou um banho de cuia, enxugou-se e voltou ao aposento onde Maria Bago Mole o esperava nua de bunda para cima!

Depois de dar uma rapinha prazerosa, ambos se levantaram, trocaram de roupa e ela o levou carinhosamente até onde estava o cavalo apeado, guardando o segredo de que lhe parecia estar grávida, e ele também deixando para outra oportunidade o segredo que iria pedir-lhe: que abandonasse o cabaré para ficar com ele definitivamente em uma das fazendas da escolha dela, tudo sem forçar a barra.

O desejo de um curtir o outro infinitamente falou mais alto e os segredos ficaram para segundo plano.

6 pensou em “MARIA BAGO MOLE E SEU BITÔNIO COELHO – O CIÚME E DOIS SEGREDOS

  1. Eita Ciço, meu bom compadre:
    Rapaz, você é um artista das letras em descrever o ciume de um homem bruto como o Coronel Bitônio. Ou seja, “os brutos também amam”. Esta é uma crônica magistral. Parabéns pela verve literária.
    Um grande abraço bitônico,
    Magnovaldo

    • Obrigado, meu estimado Magnovaldo Santos.

      Maria Bago Mole meu deu ordem sem piscar os olhos para eu não contrariar os sentimentos libertários dela:

      – Nasci me amando e vou me encantar me respeitando. Por mais que ame nunca vou deixar que um homem acorrente meus sentimentos, mesmo Bitônio Coelho, o dono do meu coração.

      Isso é mais ou menos os sentimentos que tomaram conta de mim quando escrevo sobre essa grande mulher empreendedora, que transformou o cabaré numa casa de dignidade.

      Revolta do passado por o pai a ter expulsado de casa por uma grande injustiça? Não sei. Os leitores é que tirem suas conclusões

      Forte abraço, grande cronista, com ótima semana para todos da família!

  2. O duro não é carregar o peso do chifre; é continuar sustentando a vaca.A dor do corno imaginário alcançou o coroné… Danô-se…E lá foi embora o sossego, as noites bem dormidas… imagina sempre uma cama e uma pica junto de Maria naquele cabaré cheio de CÍCEROS, SANCHOS, BENIS, DIS, BERTOS, MARCÕES doidos para lhe conquistar as delícias sentimentais e corporais! “Meu Deus, o que está acontecendo comigo? – questionava a si!” E os chifres doiam por demais…e os segredos ficaram para segundo plano.

    Remédio? Cinto de castidade na bruaca… Mandar eliminar os cabras acima citados também funciona…

  3. Já merece um livro as histórias de Ciço relatando o amor grandioso entre Maria Bago Mole e Bitônio do Bago eternamente duro. O ciúme é natural, pois provocado prla beleza de sua amada rodeada de homens desejosos de desfrutar das molezas de seu bago, tão mole quanto gostoso. Pedido e embuchamento, segredos e taras, tudo tem o tempo certo parta acontecer. E acontecerão.

    • Mestre Xico, forte abraço.

      Curioso é que Maria Bago Mole já tinha captado as intenções do seu amado e bolou a história da gravidez. Como o cabaré tinha uma localização mais centralizada do Centro, a cafetina iria demovê-lo da ideia de morar na fazenda.

      Maria não nasceu para administrar casa e dar ordens à empregadas; ela nasceu para administrar cabaré e ser livre para amar o seu homem sem a interferência dele em sua vida.

      Para ela, que possuía o espírito libertário, a permanência junto estragava o prazer de estar junto.

      Cada um na sua e o amor comanda o resto.

  4. Querida, aos poucos estou me recuperando (quase bom) do H1N2.

    Tosses, secreção, garganta crespa estão se indo embora.

    Espero você curada, linda e libertária.

    Beijos modernos, e não a moda antiga, como diz nosso ídolo.

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