CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Si Si -Bar do sonho de Maria Bago Mole, que concretizou

Com suas obrigatórias idas e vindas ao Mercado Livre do Centro da Cidade de Carpina (PE), na Rua Ipiranga, todos os dias, manhã cedo, para comprar os mantimentos necessários para abastecer a despensa do seu pequeno comércio, que crescia a olhos vistos, com a chegada de mais trabalhadores da palha da cana nos engenhos das imediações, a cafetina mais sana in corpore sano da Vila dos Vinténs, a cada dia vibrava com o estrondoso crescimento do embrião do cabaré. Procurava-lhe não poder atender, a seu jeito, a grande quantidade de homens com estômagos vazios por falta de mão de obra qualificada nas imediações: cozinheiras, arrumadeiras e atendentes para despacharem com os fregueses as refeições. Tudo teria de ser improvisado na hora para não desagradar os trabalhadores famintos.

Mulher inteligente e arrojada em suas atitudes empreendedoríssimas, Maria Bago Mole, sempre que passava em frente ao empório do Seu Adamastor Salvatore, imigrante italiano, para comprar mantimentos, observava um letreiro em forma de poema que ele pregava de frente do seu comércio. Era uma tabuleta de madeira, esculpida a mão por um artesão da redondeza, gênio da raça desconhecido. Na tabuleta havia grafado um poema do poeta romano Juvenal. No contexto, a frase era a parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida.

No cabeçalho da tabuleta estava escrito em letras garrafais: MENS SANA IN CORPORE SANO (“uma mente sã no corpo são”), que Bago Mole não entendia o significado, mas ficava fascinada pelo som das palavras, ao ponto de decorar o poema e balbuciá-lo ao Sol toda manhã quando saia do cabaré para comprar os mantimentos:

Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,
que ponha longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
que suporte qualquer tipo de labores,
desconheça a ira, nada cobice e creia mais
nos labores selvagens de Hércules do que
nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente, o único caminho de uma vida tranqüila passa pela virtude.

Tudo isso prova por que a adolescente que foi expulsa de casa pelo pai, com apenas 17 anos por ter sido difamada por um aventureiro salafrário, ter conquistado o amor do fazendeiro Bitônio Coelho, o homem mais rico e poderoso da Região da Zona da Mata Sul de Carpina, PE, era uma mulher de mente sana in corpore sano e à frente do seu tempo.

Tudo isso corrobora que a mulher que teve a visão de transformar um vilarejo inóspito, caótico, sem vida, numa comunidade próspera, construindo um cabaré que se tornou referência em toda circunvizinhança, numa época em que não existia lamparina, tinha de ser uma empreendedora que enxergava longe.

4 pensou em “MARIA BAGO MOLE E O POETA ROMANO JUVENAL

  1. Eita, meu bom compadre: Maria Bago Mole já se tornou minha heroina. A descrição de seu empreendorismo, inteligência e visão das oportunidades é uma lição para todos!
    Você poderia um dia, se lhe aprouver, e o conhecimento for levado ao seu bestunto, contar como foi o “affair” que levou à perda da inocência da Maria?
    Tenha uma semana com boa saúde e alegria para você e todos os seus queridos! Abraços.

    • Meu estimado Big Smille, o homem do sorriso cândido,

      Escreverei sim sobre a noite mais memorável dos dois bombinhos, fato que selou a vida dos dois para sempre.

      O coronel Bitônio Coelho, apesar de ser rico, dono de muitas fazendas e gados, e ter um poder imenso na região da Zona da Mata Sul, era quase um donzelão convicto.

      Já havia deitado com muitas mulheres da vida difícil, mas nenhuma o satisfazia porque o amor não existia. A relação era puramente carnal e o desejo era puro sexo.

      Maria Bago Mole, apesar da má fama e ser dona de uma cabaré, era uma mulher virgem, de hímen intocável.

      Tudo levava a crer que ela era uma mulher traumatizada até conhecer o coronel, o que será mais excitante a noite de nupcia.

      Forte abraço e boa noite!

  2. Parabéns, querido Cícero Tavares, por mais uma excelente crônica sobre Maria Bago Mole, essa mulher de espírito empreendedor e visão comercial extraordinária, que progrediu na vida por esforço próprio. Por sorte, conheceu o rico latifundiário Bitônio Coelho, que se apaixonou por ela,, passou a ser seu amante e deu-lhe apoio moral e financeiro pelo resto da vida.
    Gostei do excelente comentário e sugestões do cronista Magnovaldo.

    Grande abraço e uma ótima noite, com saúde e paz!. .

    ..

    • Queridíssima Violante Vivi, mulher de nome lindo:

      Há dignidade em Maria Bago Mole e honestidade e altivez em Bitônio Coelho. Ambos merecem uma noite de nupcia inesquecível, memorável, véspera de Santo Antonio aqui no Nordeste.

      A festa eu estou preparando para todos que amam a história, inclusive para queridíssima cronista e Schirlei Ana Paula.

      Forte abraço decoração!

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