XICO COM X, BIZERRA COM I

Fiquei estarrecido. Meu amigo pagou 120 reais pra fazer barba e cabelo em uma dessas barbearias modernas que estão na moda. E ainda teve que agendar o horário com uma semana de antecedência. Deus me defenda. Mané Pereba, no mercado público perto de minha casa, cobra $8 – se o cliente ficar em pé e $10 – se sentado em confortável tamborete. Agora ‘tá cobrando uma taxa extra de 1 real por conta do ventilador, última geração, instalado no salão. E ainda tem o brinde de aparar o excesso de cabelo nas sobrancelhas, nas orelhas e na venta, como cortesia. Sem esquecer que para os carecas o serviço é grátis.

O apelido se deve a uma pereba crônica em sua mão esquerda, decorrente de um corte de sua própria navalha, quando se iniciou na profissão. Ressalte-se que em nada o fato interfere no bom desempenho de seu ofício. Faz 19 anos que corto o cabelo com Mané e não me arrependo, apesar de eventuais cortes desnecessários ao longo da trajetória. Mas faz parte.

Tentei convencer meu amigo a experimentar Mané, mas até agora ele resiste. Besteira dele, ‘tá gastando dinheiro à toa. Fui lá, paguei a menor taxa e conheci Mané Perebinha, herdeiro profissional do pai, iniciante no metier, mas já demonstrando talento. Cortei com ele e fiquei satisfeito. Mais teria ficado se não tivesse saído de lá com dois caminhos de rato na minha já não tão vasta cabeleira. Mas é do jogo. Afinal de contas, economizei 110 contos. Na média, uma economia de 55 contos em cada um dos cortes, cabelo e barba.

O salão de Mané fica vizinho ao do senhor que conserta relógios e em frente ao do sapateiro. O alfaiate, que ficava ao lado, fechou as portas. Hoje tem lá um consertador de celular. Tomara que Perebinha resista aos avanços modernos atuais, siga os passos do pai e que não exija agendamento para futuros cortes.

Registro que Mané faz jus, com todas as honras, aos dizeres de Amara Brotinho, uma puta que ganhava a vida honestamente, dando duro nos cabarés de Palmares nos anos 60, personagem de Luiz Berto no seu Romance da Besta Fubana: “Pra adular macho melhor do que eu, só se for barbeiro, que raspa, alisa a ainda bota perfume.”

Em minha última visita, enxerido como sou e lastreado por quase 20 anos de freguesia e milhares de fios de cabelo lá deixados, sugeri a Mané uma expansão de suas atividades, em bairro nobre do Recife, instalando as modalidades UNISSEX –para cortes femininos e a KIDS, para atendimento do público infantil. Até o nome tive a audácia de aconselhar, baseado em troca de ideias com a Inteligência Artificial: seria ATELIER CAPILAR DU MANET. Ele olhou para mim, com cara de pouquíssimos amigos, e retrucou:

– Não tem quem faça eu atender ao seu pedido. Isso é coisa de francês com a testosterona fraca. Permanecerei, até Deus permitir, com a placa aí de fora: SALÃO DO MANÉ.

4 pensou em “MANÉ PEREBA ou ATELIER CAPILAR DU MANET

  1. Eu que sou das antigas, também corto em um barbeiro e não troco nem que me matem, mas mano velho, no caso da Amara o correto não seria “levando duro”?????

  2. Meu Caro Doutor,
    tão-logo se anuncie a inauguração da filial DU MANET em Lisboa ou Paris, levarei ao seu conhecimento o endereço. Recomendo.

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