É triste, diz a gente, a vastidão
Do mar imenso! E aquela voz fatal
Com que ele fala, agita o nosso mal!
E a Noite é triste como a Extrema-Unção!
É triste e dilacera o coração
Um poente do nosso Portugal!
E não veem que eu sou … eu … afinal,
A coisa mais magoada das que são?! …
Poentes de agonia trago-os eu
Dentro de mim e tudo quanto é meu
É um triste poente de amargura!
E a vastidão do Mar, toda essa água
Trago-a dentro de mim num mar de Mágoa!
E a noite sou eu própria! A Noite escura!!
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Na fase destes versos, Florbela é a noite escura.
Um coração cheio de mágoas (afinal ela se deu tanto aos amores e nada restou).
Um poente do nosso (dela) Portugal.
Imenso mar que levou Alferes, o seu grande amor.