Na vida para mim não há deleite,
Ando a chorar convulsa toda a noite,
E não tenho nem sombra em que me acoite,
E não tenho uma pedra em que me deite!
Ah! Toda eu sou sombras, sou espaços!
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que me façam sorrir de ter nascido!
Sou como tu um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!
Mas a minha tortura inda é maior:
Não sou Poeta assim como tu és
Para concretizar a minha dor.
Florbela Espanca, Portugal (1894-1930)
Quem seria o poeta para o qual a Florbela dedicou seu soneto?
Ao menos ela inspirou o poeta carioca Antônio Maria;
Ninguém me ama, ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor
A vida passa, e eu sem ninguém
E quem me abraça não me quer bem