P.E.R.U. Luiz Berto
(Poderosíssimo, Eminentíssimo, Reverendíssimo e Ufanista) Luiz Berto:
CONSIDERAÇÕES IDIOTAS SOBRE A MORTE
Fiquei sabendo que um Deputado-vagabundo chamado Lindenbergh, o atual macho da Gleise, entrou no STF para que se declare solenemente que os bancos brasileiros não devem obedecer a Lei Magnitsky, porque isso fere a soberania nacional, que é superior a qualquer ato estrangeiro.
Bem, não sou jurista nem entendedor de leis, mas tenho a liberdade de tecer comentários sobre esse fato inevitável em nossas vidas – a morte. Aliás, também tenho o direito de expressar minhas opiniões sobre soberania, apesar de tais opiniões não terem serventia para quem quer que seja.
Há, pelo menos, três maneiras de encarar a morte.
A primeira é relativa à morte natural, parte de nosso destino. Quando ela chega, procuramos estar em paz com o Senhor. Se formos católicos praticantes, confessamos nossos pecados ao padre, recebemos a extrema-unção (ainda se chama assim?) e temos a esperança de nos juntarmos ao coral do maestro Arcanjo Gabriel, cantando hinos que louvam a grandeza do Criador, e assim nos livramos das garras do Satanás Baphomet e de seu bafo fedorento em nossas nucas.
Segundamente falando, podemos imaginar como pensaria o perú do Natal, tentando compreender o que nos diz a dama de elevada extração que vai cortar o seu pescoço:
“Sabe, senhor Perú, peço-lhe encarecidamente que compreenda o significado cristão de nossa ceia de Natal, onde agradecemos ao Senhor pelo alimento, saúde e prosperidade que tivemos em todo esse ano que está se findando, e para tanto, é necessário sacrificar-lhe para que fique mais alegre a nossa festa natalina. Mas não se preocupe, na véspera vamos encher seu rabo de cachaça para amaciar a sua carne e, como bônus, o senhor não sentirá nem um pouquinho de dor pois já estará totalmente bêbado”.
Ainda temos a terceira maneira de encarar a morte: proclamar alto e bom som a nossa soberania.
Explico.
Imagino que vosmecê esteja na beira de um rio no Pantanal, vestido somente com uma bermuda Nike importada da China, pescando calmamente uma piraputanga para o almoço. Nessa hora pinta em sua frente (ou nas suas costas) uma onça pintada capitalista, daquelas bem grandes, com os olhos fixos em sua pessoa como um gato faminto olhando um rato.
Bem, o que vai acontecer é previsível.
Mas você, um patriota de elevado conteúdo brasilino, vai encarar a onça com seu discurso cheio de ufanismo:
“Senhora onça, deixe-me consignar bem claro à Vossa Ferocidade que sou um cidadão brasileiro e que a minha soberania me garante o direito à vida conforme minha Constituição, e que tal soberania veda sua interferência no meu direito à vida e a usar meu dinheiro em dólares ou em reais como bem me entender. É portanto, totalmente inadmissível que ouses atentar contra meu comportamento e minha existência. Ainda mais, declaro solenemente que usarei de meu direito de retaliar qualquer ferimento que suas garras fizerem ao meu soberano corpo, proibindo os bichos da floresta a manterem distância de suas ameaças e . . .”
Putz, não deu tempo de terminar a declaração de soberania.
Sensacional!