Marcel van Hattem
Fufuca (Progressistas), Lula (PT), Costa Filho (Republicanos) e França (PSB) em foto após a cerimônia de posse dos novos ministros
A notícia de que Progressistas e Republicanos passaram a integrar oficialmente o ministério do governo Lula é um dos mais graves sintomas de que o sistema partidário brasileiro está completamente podre. Sem fazer juízo de valor sobre os motivos que levaram os caciques partidários dessas legendas a integrar o governo, é nítido para quem quiser ver que a vontade do eleitor em 2022 foi solenemente ignorada.
Partidos que antes eram da base de Bolsonaro, na campanha com candidaturas ao Legislativo que juravam lealdade ao conservadorismo, precisaram de apenas nove meses para que as convicções fossem mudadas da água para o vinho.
Para piorar, rumores dão conta de que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, além de emplacar seu representante no Ministério dos Esportes e reservar para seu partido, o Progressistas, também a vaga do substituto da atual ministra da Saúde, teria negociado com Lula um ministério para si após sua despedida da cadeira de presidente da Câmara dos Deputados. Na ordem de prioridades vêm antes as pessoais, depois a do grupo político e, por fim, quem sabe, as do país. E assim observamos novamente em 2023 a ruína do nosso sistema partidário.
É importante repetir que houve, nas eleições passadas, um movimento popular extremamente robusto para que as bancadas eleitas para a Câmara e para o Senado fossem perfiladas à direita. O movimento deu resultado e o Congresso eleito foi considerado o mais conservador em décadas no país.
As lideranças dos partidos que agora passaram a integrar a base de Lula obviamente têm essa noção e, para tentar disfarçar, dizem-se “independentes” mesmo com cargos no primeiro escalão. Faz lembrar o Lobo Mau vestido de vovozinha: quem assiste ao desenho animado fica pasmo com a ingenuidade de Chapeuzinho Vermelho, pois não tem dúvidas das reais intenções do canídeo malvado.
Com os membros do Supremo e as cúpulas das Casas do Congresso comprometidas com o projeto de poder do PT, trabalhar pela recuperação do Brasil ficará mais desafiador. A participação popular será ainda mais relevante nesse processo. As eleições municipais do ano que vem terão papel fundamental nesse processo – não por acaso o governo já propõe praticamente dobrar as próprias verbas de publicidade para 2024. Por meio do voto e da mobilização popular, a cidadania brasileira precisa dar um basta a essa infidelidade eleitoral de quem abusa de sua confiança.