COMENTÁRIO DO LEITOR

Comentário sobre a postagem VÉI DI GUERRA PROCURA

D. Matt:

Todos os livros do nosso amigo Berto são fora de série.

Já estou cansado de mostrar a minha admiração por esse grande talento.

A Prisão de São Benedito é uma obra prima e eu que já li milhares de livros, afirmo categoricamente que essa joia (sim porque já disse e repito, todo livro é uma joia, alguns são ilustrados com gemas preciosas, outros com badulaques de fantasia, mas todos são preciosos) e muito valiosa e inesquecível.

Quando estou sentindo falta de inspiração, com pouco entusiasmo pelas leituras diárias, tiro algumas horas e degusto novamente essa saborosa obra prima e volto a ficar em dia com a mente mais clara e pedindo mais.

A todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ler esse maravilhoso livro, eu aconselho, não percam mais tempo, pois não sabem o que estão perdendo.

Falo com conhecimento do assunto, pois leio livros há 78 anos, e sei apreciar uma bela obra quando me caí às mãos.

Não fiquem estudando somente os grandes escritores do passado, pois concordo que tivemos muitos de grandes méritos, mas o passado passou e nós agora somos passarinhos abrindo o bico e pedindo mais coisas novas.

Mais uma vez reafirmo, estou com o Ciço e Sancho, vamos dar ao Berto as loas que ele merece.

Obrigado Mestre, pelas belas leituras que me gratificaram

* * *

Nota do Editor:

Fiquei ancho que só a peste com a generosa apreciação do leitor D. Matt sobre a minha modesta obra.

Arreganhei os dentes de felicidade!

Aproveito para fazer o meu comercial:

Não apenas A Prisão de São Benedito, mas todos os meus outros títulos, podem ser adquiridos na página da Editora Bagaço, com toda tranquilidade e segurança.

Os volumes serão entregues pelos correios.

Para acessar a página da Bagaço, basta clicar na imagem abaixo:

E, pra fechar a postagem e me amostrar mais um tanto, transcrevo a seguir um texto do meu saudoso amigo Orlando Tejo, figura que é um ícone da Nação Nordestina, autor do clássico “Zé Limeira, O Poeta do Absurdo”.

Este texto do Orlando Tejo foi publicado originalmente em 1983, na extinta revista A Região, editada aqui no Recife.

O texto foi incorporado às mais recentes edições do meu livro A Prisão de São Benedito.

Orlando Tejo na casa deste Editor, em Brasília, nos anos 80; no canto esquerdo da foto, uma garrafa da cachaça Rainha Pernambucana

* * *

ASCENSO, PALMARES, LUIZ BERTO – Orlando Tejo

No silêncio misterioso das ruas de São José, os passos de Ascenso. As madrugadas, ali, cheiravam a eternidade. Uma paisagem imutável: ruas estreitas e tortas, paralelepípedos em desnível, o casario encardido, aquele ranço de história antiga nas calçadas sinuosas.

A poesia das esquinas mal-assombradas, a magia da noite, o rumor da noite, das noites eternas de São José, noites de Ascenso e minhas também. Lá iam cento e sessenta quilos pisando contra a Rua do Rangel, e ecoando no Beco do Porão, na Rua do Muniz, no Pátio do Livramento, no mercado de São José.

O chapéu branco, branquíssimo, de grandes abas, era o realce único no cenário tenebroso do bairro. A brasa do charuto Cezário Pai lembrava um farol ambulante desorientado, uma tocha solitária entre as sombras fantasmagóricas do desalinhado urbano.

De quando em vez, trovejava no meio do tempo, acordando o bairro. E trovejava mais forte, porque as gargalhadas de Ascenso eram mal-educadas e intempestivas. Ria-se das histórias que ele mesmo me ia contando, sempre, e sempre sobre o bulício de sua infância em Palmares, “uma esculhambação organizada” que teria percorrido alguns milênios. Àquela época (1956), eu não me apercebia deste privilégio: era o único jovem de vinte e um anos amigo íntimo de Ascenso Ferreira. Eu trocara Campina Grande por Recife e aí desembarcara com um único documento: uma carta de Raymundo Asfora me apresentando ao Poeta. Ao encontrá-lo no meio da noite numa roda de chope d’O Pigale, após meia hora de chope e alguns sonetos, entreguei-lhe a carta de apresentação. Ele recusou-se a lê-la: “Diga a Asfora que crie vergonha!”. Mas o seu olhar, o seu sorriso e um grande abraço intimaram-me a ser seu irmão siamês.

Pela mão de Mauro Mota, logo entrei para o Diario de Pernambuco, onde Ascenso passou a ir apanhar-me invariavelmente a uma hora da manhã. Para nós, era a boquinha da noite. E entre histórias de Palmares, bicadas de cachaça e mijadas em troncos de velhas árvores, surpreendíamos a aurora (no curso da madrugada Ascenso não podia ver uma árvore, assim como um cão não pode ver um poste).

O sol nos encontrava sentados num banco defronte à estátua de Sacadura Cabral, ao lado do Grande Hotel, já no Cais de Santa Rita. Era tempo de continuar a história (sempre interrompida) de como as polacas conseguiram depravar o baixo meretrício do Bairro do Recife, nos primeiros quartéis do século. Mas a garrafa de cachaça ia acabar e a conversa voltava fatalmente para os Palmares.

O Poeta emaranhava suas peripécias de menino com os feitos de Zumbi. Minha cabeça transbordava de Quilombo. Esses elementos interligavam-se aos Palmares da meninice de Ascensão e a cidade passava a ser a mais importante de Pernambuco. Para mim, era Palmares o ponto inicial das importâncias de Pernambuco e adjacências.

Por uma consequência natural, tornei-me amigo do palmarense Jayme Griz. E a pátria de Zumbi cresceu no meu amor.

Tempos depois, já em 1971, e por circunstâncias de uma profissão que não chegou a ser cometida, fui dar com os costados em Palmares. Chegando à cidade por volta das catorze horas, procurei o juiz da comarca. O meritíssimo estava dormindo. Indaguei pelo promotor público. Também dormia. O tabelião poderia facilitar as coisas, mas também, infelizmente, dormia. Todo o Fórum dormia. Voltei desapontado. Morfeu havia tomado conta da Justiça em Palmares. Tornei a ir lá algumas semanas depois e me espantei, porque a cidade estava acordada demais. De forma que a imagem da urbe continuava a ser, na minha óptica, uma coisa enigmática, nebulosa, desarrumada.

Há alguns meses, porém, A Prisão de São Benedito e Outras Histórias, o mais opulento livro que já li em seu gênero, possibilitou-me a visão clara e geral do universo palmarense.

Nessa espécie de radiografia sentimental e sociológica de sua terra, Luiz Berto simplesmente despe a cidade aos nossos olhos, e assistimos, extasiados, ao espetáculo da humanidade. A dimensão que o livro confere a cada personagem do seu elenco humano – e esse elenco envolve praticamente o município – dá a Palmares um destaque jamais conquistado por outra cidade.

Em cada página de A Prisão de São Benedito e Outras Histórias a comunidade agiganta-se na sua própria humildade e tudo é um burburinho de intensa pigmentação social. E tudo se alinha harmonicamente num conjunto de grandiosidades, circunscrevendo cenas bombásticas de misérias, torpezas, felicidade.

Nunca os tipos populares de nenhum lugar mereceram perfis literários mais precisos. Nenhum deles é caricaturado. São todos fotografados com a exatidão da arte que se pode exigir de um mestre. Luiz Berto os faz desfilar em assombrosa passarela universal, cada um deles com seus cacoetes humanos e suas características congênitas, de maneira que o leitor se assenhora, fundo, do riquíssimo cotidiano local que, em verdade, não é diferente do dia a dia de nenhuma outra cidade interiorana. Todas as cidades possuem os mesmos doidos, os mesmos boêmios, os mesmos aleijados, as mesmas prostitutas, as mesmas presepadas; e os bares, o cabaré, a noite, o clima de vida, o folclore, enfim, são clichês. Tipos populares, portanto, não são privilégio de lugar algum. Ocorre, todavia, que somente Palmares deu um Luiz Berto. E isso explica o fenômeno. É o mesmo que pensarmos o que seria a Bahia sem Jorge Amado.

O fato é que Luiz Guarda, Biu do Tacho, Pimpão, o Velho Rabeca, Vaca Braba, Telles Júnior, Veludo do Pife, Mané Peito de Aço, Amaro (“Cotó”), as ruas de Palmares, a Coreia, o Avião de Paulo Afonso, tudo entrou definitivamente para a história pela magia de um talento que se impõe no cenário atual mais nobre da literatura brasileira.

Tomem nota deste depoimento: nunca li, em nenhum escritor pátrio, nada mais tocante nem de tanta grandeza, nenhuma página mais lírica e eterna do que Nós, os meninos de Palmares, com que Luiz Berto inicia A Prisão de São Benedito e Outras Histórias. Nesse delírio, o autor, na companhia de Romildo Pilica, Adeildo Baé, Antônio Maromba e Fernando Gata, os meninos mais felizes de todo os brasis, voam nas asas da liberdade rumo a Pirangi. Eles vão flutuando na grande tarde ribeirinha e, aconteça o que acontecer, não importa, eles vão a Pirangi. E eles são os únicos meninos do mundo que podem ir a Pirangi amorcegando estrelas vespertinas da ilusão.

Lembrem-se: somente eles, os grandes vagabundos pequeninos, vão a Pirangi, unicamente eles, os “guardiães do vento, vigias do barulho das águas, apontadores de estrelas, gáveas ao vento, imagens do cão, arteiros”.

Um comentário em “LEITOR ELOGIA E EDITOR APROVEITA PRA SE AMOSTRAR

  1. Obrigado amigo.

    Nunca esquecendo que também temos a sua importante
    participação, nos comentários finais , desse belo livro.
    Abraços Amigo.

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