CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Dr. Pedro Lincoln, este colunista e o Prof. Skaff

De repente, ao chegar aos 88 junhos, me senti velho!

Cheguei a me assustar, pensando: Será que daqui pra frente não serei atacado com algum defeito irrecuperável na carcaça velha? Cuca enferrujada, falta de energia? Coisas do tipo.

Outro dia me encontrei com Raimundo e lhe fiz algumas indagações, de velho pra velho. Trocamos boas risadas com nossas próprias respostas.No final da prosa, “disparei”:

– Mundinho ainda sentes aquele desejo de estar num quarto à meia-luz, com um abajur daqueles antigos e uma cidadã te esperando, vestida com uma camisola rendada?…Lembra-se quando estávamos em “Viagem do Banco”, lá em Natal e visitamos a “Pensão de Maria Boa”?

E Mundinho: “Só tenho vagas lembranças, Carlinhos. Mas saudades não sinto mesmo não. Os tempos correram, e agora o “instrumento” não tem mais o mesmo vigor, já está meio bambo.”

Mas, retornando a uma consulta de rotina, a cardiologista confirmou que meus exames estavam tão bons que ela estava entusiasmada.

Tenho outro amigo que é médico e sempre está me reafirmando que coisinhas tolas, são normais, aos seres viventes, sobretudo nas idades avançadas.

E assim, tenho vivido: é uma caneladinha aqui, outra acolá, pequenas perdas de objetos caseiros, umas topadas pelas calçadas, mas nada é preocupante. A preguiça para fazer caminhadas e as restrições de açúcar, sal e boa dose de “Martini”, sabe-se que é tudo ligado à PVC – Porcaria da Velhice Chegando.

Juntei, então, meia dúzia de “velhotes amparados”, técnicos em vivências, a fim de participar de uma pesquisa, para se formular o texto de uma nova lei, a ser encaminhada aos nossos parlamentares.

Visa a normativa, definir, por Lei Federal, uma série de benefícios já identificados em conversas de bar, filas de Previdência Social e outras malocas. A lei visa a preservação de vários direitos, inclusive o direito de livre opção para a prática de todas as coisas que derem na telha, após os 70 anos.

Vejamos algumas sugestões que estão à mesa::

1. Os familiares não poderão encher nossos sacos com exigências bestas.

2. Não seremos obrigados a repartir problemas com os mais próximos, sejam amigos ou parentes.

3. Não nos obrigarão a cortar o cabelo, as unhas e tomar banhos.

4. Será proibido segurar nossos braços, quando em público, pra não nos avacalhar.

5. Os arquitetos serão obrigados a projetar quinas redondas nas paredes de apartamentos.

6. Será obrigatório que nos banheiros tenham bancos, com cintos de segurança.

7. Que os chuveirinhos das privadas funcionem com água perfumada.

8. Que tenham direito ao “Passo-livre” em transportes rodoviários, ferroviários, marítimos e aéreos e mais: em cinemas, teatros, shows ao ar-livre e quaisquer outras manifestações ditas “culturais”.

9. Acesso, sem despesas, a quaisquer clubes esportivos, sociais ou culturais, inclusive partidas de futebol e outras modalidades.

10. Familiares serão proibidos de nos obrigar a ingerir “remédios preventivos”, mesmo que sob receitas médicas, ou nos levar discretamente – a força – para as detestáveis “consultas de rotina”.

11. Teremos o direito de dormir e acordar de acordo com nossos gostos.

12. Não seremos obrigados a doação de nossas tralhas, inclusive chinelos velhos.

13. Poderemos nos casar oficialmente até mais de duas vezes.

Teremos direito a outros benefícios aqui ainda não assinalados.

Confesso que me alegrei ao ver tantas vantagens. Afinal contribuímos para o progresso. Creio que as “cabeças pensantes” do Parlamento vão até acrescentar outros itens ao nosso projeto, porque será uma felicidade se conseguirem chegar aos 70, frevando nas ruas do Recife ao som do “Vassourinhas”, ao gingado do passo livre.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *