MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

Mais um pouco de paciência e 2023 vai embora. De vez. Morre integralmente deixando apenas algumas lembranças gratificantes e outras bastantes amargas. Não espere milagre porque nada mudará automaticamente, ou seja, o dia primeiro de janeiro não fará o mundo viver melhor. Guerras continuarão vigentes e outras tantas arquitetadas; corruptos continuarão no poder; inocentes continuarão massacrados pela intolerância política ou religiosa; a fome continuará assolando moradores do Nordeste brasileiro que continuarão liderando o ranking de analfabetismo no Brasil. A quantidade de beneficiários do Programa Bolsa Família continuará superando a quantidade de empregos formais no Norte e Nordeste desse país.

Teremos um ano de eleições municipais e a política do panis et circenses será a principal tônica. Basta agradar o eleitor pobre com uma obra sem muito sentido, ou aplicabilidade, e os votos choverão na urna do benfeitor. A miséria continuará gerando votos e os imbecis continuarão miseráveis tanto de patrimônio quanto de espírito.

Caramba! Vai ser pessimista assim no inferno!… pensarão alguns de vocês. Não se trata de pessimismo, mas de realismo nu e cru. As desgraças, geralmente, são sistêmicas, ou seja, atingem a sociedade como um todo, enquanto as alegrias são individuais, familiares ou fraternas. O jogador de futebol que fica no banco de reserva, não está ali torcendo pelo time. Ele torce para que o titular se machuque e quando isso acontecesse ele entrar em campo com as mãos erguidas para o alto como se suas preces tivessem mesmo sido ouvidas por Deus.

Então, o possível Feliz Ano depende do volume de esperanças que carregas contigo. É esse combustível que te move e em função dele executarás os teus atos. O mundo só vai melhorar se colocarmos a esperança a frente das decepções, mas a esperança é uma variável dinâmica: aquele que senta e fica esperando que as coisas melhorem verá, tão somente, o tempo passar diante dos seus olhos sem agregar um milésimo de segundo a ao estoque de felicidade que carregas. “Quem vive de esperança morre de fome” exatamente pela falta de ação, de movimento.

Tem outro dito popular que diz “quem espera sempre alcança”. Pode até ser verdade, no entanto, esse “nirvana” pode demorar a vida inteira. É como a árvore plantada que só recebe incentivo quando chove e não creia que “A esperança é a última que morre”. Ledo engano, a realidade mata de forma mais drástica e muitas das vezes a esperança é um embrião que se perdeu no ventre dos sonhos.

O dito “enquanto a vida, há esperança” está, nitidamente, errado. É ao contrário: enquanto há esperança, há vida porque, de fato, a esperança é, ao mesmo tempo, um ponto de apoio e uma alavanca e como disse Arquimedes “dê-me um ponto de apoio e uma alavanca e eu moverei o mundo”. Creio nisso. Nós precisamos dessa estrovenga se quisermos sair do marasmo. Se quisermos fazer acontecer, não basta falar. Se sabe fazer, faça. Não espere porque o tempo passa e sua ação pode ter sido importante no segundo anterior.

Há quem diga que a “esperança é o pão dos infelizes” e quando ouço isso, lembro tremo nas bases porque entendo que se alarga o conformismo, o entreguismo a situações de penúria porque se delega a outrem a prerrogativa de fazer algo por você. Talvez seja com base nisso que as regiões Norte e Nordeste são repletas de necessitados que acreditaram que Frei Damião traria chuva para região ou que Antônio Conselheiro estava certo quanto disse, em 1833, que o “sertão vai virar mar”. Há uma romaria intensa na região em torno de “Padim Ciço” no qual o sertanejo deposita esperanças e milagres que não existem. Não espere milagre, faça a sua parte.

“A miséria só começa quando a esperança acaba”. Isso está muito sintonizado com o tal “pão dos infelizes”. Não é assim. A miséria não é uma imposição divina. Ela é criada pelo Homem. E aí, as pessoas usam o temor de Deus, a religião, etc. para justificar a miséria e trabalhar para que ela permaneça. Não é de graça que as regiões, Norte e Nordeste, possuem mais beneficiários do Bolsa Família do que empregos formais.

Então, prezado leitor. Faça suas escolhas, baseadas nas suas convicções. Qualquer decisão sua, você será o primeiro a ser afetado. Transforme, cada dia de 2024, num altar de esperança, mas trabalhe para que haja ação.

6 pensou em “LÁ VEM 2024

  1. Caro Maurício, são três as virtudes teológicas: fé, caridade e esperança. Sem estas virtudes não adiantaria ter vida, pois seria vazia de sentido.

    Que estas virtudes estejam em nossos corações em 2024.

    Deus nos proverá, nunca duvide.

    • Ia falar sobre elas. Relembrar o que disse Paulo: “porém eu vos digo que há três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, mas a caridade é a maior delas”. Não fiz porque quis fugir dessa ligação religiosa e tratar da esperança como algo dinâmico. No meu entender, todos dizem ter esperança, mas são estáticos e quando falham dizem que foi “porque Deus quis assim”.

  2. “Enquanto há esperança, há vida.”
    Simplesmente fantástica, meu amigo Assuero, por ser extremamente racional.
    Em sua afirmação eu me inspiro para escrever:

    A razão é o que sobra
    Do tempo em sua corrida
    Mesmo quando a emoção
    Faz na alma uma ferida
    Nasce em mim a confiança
    Que enquanto há esperança
    É porque também há vida.

    E não mais o contrário.

    JRM.

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