Nessa tarde mimosa de saudade
Em que eu te vi partir, ó meu amor,
Levaste-me a minh’alma apaixonada
Nas folhas perfumadas duma flor.
E como a alma, dessa florzita,
Que é minha, por ti palpita amante!
Oh alma doce, pequenina e branca,
Conserva o teu perfume estonteante!
Quando fores velha, emurchecida e triste,
Recorda ao meu amor, com teu perfume
A paixão que deixou e qu’inda existe…
Ai, dize-lhe que se lembre dessa tarde,
Que venha aquecer-se ao brando lume
Dos meus olhos que morrem de saudade!
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Florbela casou-se aos 18 com um ex colega de escola que a fazia passar por dificuldades financeiras.
Ainda casada tornou-se amante do Alferes Guimarães, seu grande amor, a quem provavelmente dedicou estes versos apaixonados.
O Alferes viajava muito e possivelmente tinha outras amantes nos diversos portos que passava, o que fazia com que a Flor tentasse lhe deixar marcas mais duradoras.