FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Telefone me aporrinha às duas da manhã. Do outro lado da linha, eufórico, o João Silvino da Conceição se esgoela: – Coroa meu chapa, acabo de tomar umas geladas com um pessoal que adora Pernambuco! E que me elegeu coordenador, no Recife, de uma organização não-governamental chamada ASNOG – Associação Segura no Gogó -, constituída com a finalidade de botar a boca no trombone diante das maracutaias e desencaminhamentos técnico-administrativos acontecidos Brasil afora. Topas me auxiliar na empreitada? O salário é que é valoroso: zero real! Para não deixar os integrantes se desviarem das funções, pois o que tem de tecnocrata nomeado em Brasília que não sabe para onde a canoa da instituição vai é de se tirar o chapéu, arriar as calças e balançar o quebra-galho para tudo quanto é lado por aqui!!

Lembrei ao Silvino sobre as minhas atuais responsabilidades, profissionais, familiares e espirituais, que me estão tomando a semana inteira, incluindo domingos e feriados. Mas que eu estaria disposto a divulgar o que ele me enviasse, até para chamar a atenção do Ministério Público, aqui em Pernambuco dirigido por um procurador-geral nada invocado, cabeça muito da benfeita, que não tem medo de, com uma categoria ímpar, botar os pontos nos ii, denunciando o que está estrovenga na terra dos heróis da Restauração. O procurador-geral tem o aplauso geral para responsabilizar os sonegadores, deixando-os aptos para ver o sol nascer quadrado.

Aí o João Silvino vibrou. Disse que conhecia muito bem o Procurador, seu caráter ilibado e seu ideal cidadanizador. E que também admirava a senhora dele, que presidia uma associação que defende os interesses dos inscritos nos seguros de saúde, sempre alerta em manobras pouca esclarecedoras sobre migração e reajustes.

Gosto demais da valentia do João Silvino, não abrindo nem para o trem quando se trata de interesses comunitários, estejam os denunciados na situação ou na oposição, batendo ou levando, tirando ou botando. E que muito gostaria de ver a comunidade brasileira virar povo mais consciente dos seus direitos e deveres, sabendo diferenciar promessa de embromação, riso cínico de seriedade compromissada, postura matreira de riso feliz pelo dever cumprido.

Revelei ao João Silvino algumas apreensões que estavam rabiscadas num papel almaço relegado no fundo de uma gaveta, para não ampliar mais uma desnecessária, porque autofágica, desacreditação nos destinos brasileiros. E acabei levando uma estupenda reprimenda do amigo de infância: – Não se pode deixar de lado a luta dos cidadãos pensantes! É necessário que eles tenham um amplo apoio da sociedade civil, para que as maracutaias sejam sanadas e os sabidórios no chilindró.

E o João Silvino me deu uma relação de sugestões: a situação dos conselhos tutelares situados na RMR, que deveriam ser melhor capacitados, para que não aconteçam as situações humilhantes por que passam os que se encontram internados em alguns abrigos; a instauração de inquéritos civis públicos para apurar desmandos praticados por gestores em anos eleitorais; a quebra do ciclo da impunidade, articulando ações Polícias x Ministério Público x Defensoria x Judiciário; a vigilância serena em relação aos Conselhos de Educação, garantindo o cumprimento de seus papéis; e a implementação de iniciativas sempre dinâmicas.

Perguntei ao Silvino se todas as sugestões eram dele. E ele me respondeu que todas elas tinham sido aprovadas pela secção estadual da ASNOG – Associação Segura no Gogó, quando de seminário efetivado num dos últimos finais-de-semana.

O telefonema foi encerrado às três da manhã. E eu fui dormir agradecendo a Deus pela lucidez do Silvino, pedindo a Ele todas as graças para a ASNOG, um serviço público que se destacará num país que necessita inserir-se urgentemente na relação dos mais dignificantes do planeta.

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