O percuciente jornalista e pesquisador musical da MPB, José Teles, do Jornal do Commercio, um dos melhores do Brasil na atualidade, lança sua impressão a respeito do “cantor” serritense e questiona por que a Prefeitura do Recife não cobra pelo espaço ocupado pela gravação do DVD do dito-cujo.
A esquerda não foi idealizada visando o bem estar do povo, mas a sua idiotização
A seguir transcrevo o texto de José Teles.
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O show de João Gomes, nesta quarta-feira aqui no Recife, no Marco Zero, é típico do mercado da música no Brasil neste século 21. O cantor, de Serrita, no Sertão Pernambucano (onde acontece a Missa do Vaqueiro), tem milhões de seguidores, paradoxalmente, a maioria das pessoas não sabe quem é ele, nem conhece sua música. Não se trata de gerações diferentes, ou como dizem os americanos, generation gap. Os coroas, ou caretas, de outros tempos, sobretudo do século passado, podiam não gostar de Roberto Carlos, Caetano Veloso, Raul Seixas, Legião Urbana, mas sabiam quem eram, e conheciam suas músicas. Esta é mais uma celebridade impulsionadas pelas mídias sociais feito o Tik-Tok, ou Instagram.
João Gomes entra em cena com todo um projeto pronto. Sua divulgação acentua os milhões de seguidores, os milhões de plays nas plataformas digitais e, neste caso especifico do citado show, a estrutura monumental pra gravação de DVD (pra vender a quem? Ninguém compra mais DVD). Fala-se pouco da música do jovem. Uns poucos atrás, Wesley Safadão era divulgado pelo valor do cachê, que a partir daí chegou à estratosfera.
No blog do Jamildo, no JC Online, informam-se os cachês que o cantor vem recebendo de prefeituras, e órgãos públicos em Pernambuco. Chega perto dos 4 milhões de reais. Dinheiro pago à JG Shows Ltda.
João Gomes deveria ser convidado pelo próximo presidente pra ser do ministério das finanças. Com apenas 20 anos, três de carreira, recentemente ele esvaiu-se em lágrimas ao estrear no palco principal do São João de Caruaru. Agora mostra que já conseguiu montar uma estrutura que artistas veteranos como Alceu Valença, Gilberto Gil ou Roberto Carlos não ostentam. Aliás, dois artistas veteranos participam do show, Fagner e Wanessa da Mata, talvez, não apenas por amor ao piseiro.
A prefeitura do Recife, segundo o blog do Jamildo, não pagou pelo show do Marco Zero hoje. Se pagasse seria de estranhar. O município deveria era receber pela cessão do local para o cantor. Que vai usufruir de um dos cenários mais belos do país. Também pelos transtornos a que submeteu à população, com tantos bloqueios de ruas, num começo de noite, numa cidade de mobilidade já critica. Por que não iniciar às 21h? E tudo isto pra que uma produtora de shows promova João Gomes, e mais três artistas do mesmo nicho musical, divulgados de última hora, que participam da apresentação (ganhando assim uma oportuna e valioso exposição).
Alega-se que tais shows com cantores popularescos, e bombados na web, divulgam a cidade. O Recife tem beleza, história e cultura que dispensam tal tipo de divulgação.
Andy Warhol foi autor da célebre frase “No futuro todos serão famosos por 15 minutos” e “Eu sou uma pessoa profundamente superficial”.
Concluímos que é pura politicagem, basta ver o santinho de divulgação.
Lembro que tal absurdo se viu na globo (sempre, para surpresa de ninguém), que há tempos, promoveu um programa especial para cada grande nome da MPB.
Caetano Veloso…Chico Buarque…Roberto Carlos…Djavan. Na sequencia promoveu, goela a baixo, a indigesta e próxima atração da MPB: Fábio Junior. Artista da casa.
A globo, assim como os partidos políticos, se arvoram em nos incutir o que seria melhor pra nós, tentando impor seus pontos de vistas, manipulando a massa. Editando o noticiário naquilo que ELES acham o que devemos saber.
Nada contra a “nova estrela” que, no fundo, é mais um marionete, e bem remunerado.