Iniciei uma trilogia: três romances contando a história de uma família da classe média alta desde o ano de 1921 quando aportou em Maceió o colombiano Pablo Marquez. O primeiro livro com o título de MANGUABA (lagoa das Alagoas) é passado entre 1921 e 1964, está com 1ª edição esgotada, sendo reeditada. O segundo livro MUNDAÚ (outra lagoa das Alagoas) as histórias abrangem 1965 a 1979 – esse segundo livro foi lançado online para todo o Brasil pela Editora Aletria de Belo Horizonte. Finalmente o terceiro livro da trilogia abarca entre 1980 e 1994 está na 203ª página em meu computador; será lançado este ano com o título de JATIÚCA, praia linda de Maceió, onde moro.
Hoje andei no calçadão tomando banho de sol por quase uma hora, recordei como era distante do centro esse bairro, essa praia. No final dos anos 60 a belíssima orla era apenas um imenso coqueiral, cheio de plantas, cheio de matos. Destacava-se apenas o Sítio Jatiúca do Dr. Théo Brandão, uma das figuras mais importantes no folclore e na cultura alagoana. Havia uma casa recuada. Certa noite, como diretor social do CRB, levei a miss Alagoas, ao sítio Jatiúca para Dr. Théo dar sugestão do traje típico para o desfile da jovem no concurso de Miss Brasil. Nossa miss brilhou no Rio de Janeiro com a fantasia de Diana do Pastoril, ideia do nosso maior folclorista. Naquela noite, Dr. Théo me explicou a origem do nome de seu sítio. Havia muito carrapato (mamona) na região, na língua indígena chamado de Jatiúca, ele então deu esse nome ao sítio. Anos depois a região foi transformada no bairro mais badalado dessa cidade, bairro da Jatiúca.
O bairro teve início nos anos 70 com a construção do grande conjunto habitacional Castello Branco. A COHAB comprou um extenso terreno para o empreendimento, abriu ruas paralelas e uma Avenida no centro do loteamento desembocando na praia. Nessa época do milagre econômico eu estudava engenharia, com outros colegas conseguimos estágio na fiscalização da construção dos blocos de apartamentos, foi quando aprendi a construir.
Fui testemunha de um fato esclarecedor sobre o nome da avenida central, a Avenida Amélia Rosa. A Construtora Silva ganhadora da concorrência tocava a obra, um fornecedor de material de construção para puxar o saco do Seu Silva, pediu a um vereador que a Avenida principal do empreendimento se denominasse Amélia Rosa, nome de uma velha senhora de Arcoverde, Pernambuco, que nunca pisou nas Alagoas, mas tinha o merecimento de ser mãe de Seu Silva, o dono da construtora. Até hoje ninguém sabe, ninguém viu a senhora Amélia Rosa em Maceió. Já tentaram mudar o nome, a Câmara de Vereador de Maceió rebatizou como Avenida Antônio Gomes de Barros. O povo acostumado com a Amélia, resistiu, o novo nome não emplacou. Amélia Rosa é mais fácil e fruto de uma tenebrosa puxada de saco, ferramenta corriqueira na política universal.
Hoje Jatiúca é o bairro mais charmoso da cidade. Nele moram figuras proeminentes das Alagoas, como o ex presidente Fernando Collor, o ex governador Téo Vilela e esse imodesto escritor que tecla no computador se inspirando na bela vista do mar verde azulado olhando de sua janela. Com vários hotéis e restaurantes é área do mais alto teor boêmio. Um dos primeiros bares da badalação foi o “Bye Bar Brasil”, empreendimento de uma figura maravilhosa da noite, Paulinha da Palmeira dos Índios, terra de Graciliano. O nome do bar é uma clara alusão ao famoso filme “Bye Bye Brasil” do cineasta Cacá Diegues.
Certa vez Cacá, amigo de infância, esteve em Maceió e desejou conhecer o famoso bar. À noite juntamente com Vera Arruda, Miltinho, Celso Brandão, Elinaldo Barros sentamos em uma estratégica mesa no Bye Bar Brasil. Local agradável, chope, bom tira-gosto, boa conversa. Apresentei Paulinha ao Cacá. Ele pediu que ela sentasse ao lado e falou com ar sério: o nome do filme Bye Bye Brasil, ou similares, não poderia usado sem um contrato, Paulinha teria que pagar uma indenização e que seu advogado em Alagoas, Dr. Guilherme Braga, iria procurá-la para acerta o pagamento por uso indevido do nome.
Paulinha perdeu a graça, preocupada foi atender ao caixa. Depois de meia hora, Cacá percebeu a tristeza da dona do bar, chamou-a, sorrindo disse que tinha uma proposta: o nome Bye Bar Brasil continuava, entretanto, o amigo Carlito Lima a partir daquela data até o final do ano beberia chope de graça no bar. Paulinha percebendo a brincadeira aliviou-se, respondeu que naquele caso preferia pagar a indenização. Sentou-se em nossa mesa, o papo foi quase à madrugada. Fomos os últimos a sair, o sol estava nascendo por trás dos coqueiros da Jatiúca.
Prezado Carlito Lima,
Por pura coincidência tenho uma irmã que mora em Jatiúca e seu marido, médico, é muito ligado à cultura alagoana (adepto da cocada e do doce conhecido por suspiro) e gostaria muito de bater um papo com você, pois ele tem muitas sugestões pra lhe oferecer a respeito da cultura alagoana.
P.S.: – Depois dessa vacinação, quero ir a Maceió para lhe fazer um convite para almoçarmos juntos na casa da minha irmã ou num restaurante de Jatiúca e conhecê-lo pessoalmente. Abraços!!!
Caro Capita Carlito.
Você tem mais um mérito: sabe historiar e o faz como personagem que viveu vários cenários.
Nós que estamos na idade madura temos a obrigação de deixar esse tipo de registro, particularizando cada um dos momentos vividos.
Ler sobre Alagoas é recordar grandes alagoanos, dentre eles meu Padrinho Jayme Monteiro, os caríssimos irmãos-amigos, Alberto e Aldemar Buarque de Paiva.
Estive várias vezes em sua capital a serviço do Banco do Brasil e não deixando de aproveitar para almoçar “aquele camarão” na lagoa, além de várias passagens de turismo com a família.
Receba meus cumprimentos. Sou leitor assíduo do Velho Capita.
Aquele abraço.
Carlos Eduardo – Recife.
Meus queridos Altamir e Carlos Eduardo, fuquei sensibilizado com suas observações de minhas crônicas. Terei um imenso prazer em conversar, caminhar, jantar, quando estiverem aqui em Maceió. Gosto muito do Recife, tenho minhas boas lembranças quando morei aí nos anos 60. Um forte abraço.
Meu amigo Carlito, como participante daquele grupo auto denominado “Meninos da Avenida” e lhe conhecendo pessoalmente, você sabe que sou seu leitor fiel. Dei uma fraquejada (lembra quem disse isso? kkk) e não adquiri tempestivamente o primeiro volume de sua trilogia, Manguaba, que está atualmente esgotada. Será que em algum sebo de Maceió a gente pode encontrar essa preciosa raridade? Você bem sabe que moro atualmente em Santa Catarina (há mais de cinco décadas), motivo pelo qual algumas coisas do nosso torrão me passam despercebidas. Como você é o pai da criança, peço sua ajuda para ver se consigo encontrar esse livro. Tentei, sem sucesso, a “Estante Virtual”, onde pensei que encontraria. O livro foi produzido por qual editora? Será reeditado? Um abraço e um bom domingo.