CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

O PODER CURATIVO DAS ÁGUAS DO MAR 

Não faz muito a minha saúde topou com um embaraço medonho, a bem dizer, um desânimo, uma malemolência, uma prostração de forças. Justo eu, inquieto feito folha seca.

Então, para desenfadar-me desse incômodo, deliberei procurar um médico a quem apresentei as minhas preocupantes queixas. Depois dos exames radiográficos, auscultações e perquirições cabidas, o médico atestou que sobre o meu espinhaço encontravam-se arranchados dois invasores perigosos, digamos, duas marmotas pavorosas. Uma delas, disse-me o médico:

— Por ser minha velha conhecida será por mim despejada, a pulso. Com ela sei muito bem manivelar.

A outra, o médico declarou-se incompetente para promover o despejo. Todavia, fez o favor de apontar dois caminhos, em um dos quais, presumivelmente, eu encontraria uma luz de salvação. O primeiro caminho seria para eu agendar uma consulta com o “Bita do Barão”, macumbeiro de José Sarnei. Evidentemente, rejeitei, de pronto, essa possibilidade. É que sou de pouca fé aos poderes divinatórios dessas entidades macumbistas. Já basta o depósito de crendice de que é feito o Brasil. O segundo caminho seria para eu procurar as águas do mar e nelas submergir por trinta e três vezes, em mergulhos demorados. Ao final de cada mergulho eu deveria pronunciar, de modo altissonante: louvado seja nosso senhor Jesus Cristo. Ao cabo dos trinta e três mergulhos, então eu passaria a última costura dizendo: para sempre seja louvado. Assim o fiz. Peguei o distante caminho do mar e procedi conforme prescrição médica.

Concluída a tarefa os resultados foram surpreendentemente favoráveis. De dentro de mim começou a brotar um ânimo inflamado, uma vida animosa, uma intrepidez sem parelha. Enfim, a prostração desapareceu, restabeleceu-se o estilo de quando eu vivia animosamente. Mas esse assomo de disposição já está me custando o apelido de cabrito. É que, de raro em raro, me vejo cabriolando maquinalmente, aos moldes de cabrito.

Viva o poder curativo das águas do mar! E viva também, por uma questão de justiça, o substancioso cardápio à base de frutos do mar. Esse cardápio é tão substancioso, e saboroso, que até dar vontade de juntar as sobras, meter no alforje e levar para casa.

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