Porventura, o nobre leitor sabe da existência de algum político que depois de sufragado nas urnas tenha mantido a mesma simplicidade dos tempos em que peregrinava, rua acima, rua abaixo, em busca de votos, por vezes vertendo humildades?
Depois de eleitos, os políticos, invariavelmente, fazem ouvidos moucos, viram as costas para aqueles que lhe endossaram o passaporte, os eleitores. Estes, que lhes eram tão imprescindíveis, agora, reduzidos à insignificância, são apenas manchas do passado. Alojados, ricamente, nas cortes legislativas, vivendo outras esferas de emoções, e saboreando apetitosas mordomias, perdem facilmente a lembrança das suas proveniências, suas aldeias, suas vilas, seus guetos.
Promessas votivas, feitas sob juramento, são rapidamente esquecidas. Seus princípios éticos, legados avoengos, vão-se desbotando paulatinamente, por vezes causando incômodo. Há casos, inclusive, em que desandam a espinafrar não apenas seus concidadãos, mas também seus consanguíneos.
Cheios de presunção, de superioridade moral, os eleitos passam a arrogar para si, descerimoniosamente, prerrogativas, privilégios, imunidades e um sem termo de regalias principescas. Nessas alturas, o sedutor aroma da desonra, comum nos meios políticos, já lhes parece agradável.
“Amigo no poder é amigo perdido”.