CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

O RETORNO

Num comunicado breve, um amigo me fez saber do seu retorno a Brasília. Regressos geralmente merecem uma saudação. Seja bem-vindo, amigo, ao seu quartel general, ao regaço do seu lar. Quando me vem a notícia de que um amigo retornou ao colo da sua casa, logo sou acometido de um silencioso sentimento de conforto, de desafogo, uma sensação de resgate. Depois de certo tempo de ausência o retorno ao lar é de suprema alegria. O lar ainda é o local mais aconchegante. Evidentemente, os humanos, desde os primórdios, não foram feitos para a reclusão em suas casas, mas, a exemplo dos navios, para singrar os mares da vida. Pesarosamente, muitos retornos são demarcados por penosas tristezas, digamos uma peregrina comoção. Isso muito me diz. Isso ainda está aceso na minha memória.

Aos vinte anos, farejando sonhos, deixei a casa dos meus pais e desandei, sobre o lombo de um pau-de-arara, em busca de uma cidade que estava sendo edificada no vazio central do estado de Goiás. Apinhada de esqueletos de obras, e envolta numa gigantesca nuvem de poeira vermelha, os que já se achavam arranchados nela juravam que, finalmente, haviam encontrado o tão sonhado eldorado, onde se podia garimpar ouro em solo raso.

Pois bem, somente cinco anos depois, com algumas raízes nos pés, pude retornar à casa dos meus pais. Quão agradecido fiquei a Deus, minha bateria afetiva estava desnutrida. A primeira pessoa que apareceu à porta foi uma menina, quatro anos. Cheia de desconfiança com a presença de um forasteiro, ela disparou o alerta.

– Mamãe, tem um homem aqui.

– Como é o seu nome, perguntei.

– Verônica, ela respondeu com o semblante travado.

– Então, você é a Verônica? Eu sou seu irmão.

– Não, você não é meu irmão.

Me ajoelhei e disse:

– Verônica, eu sou o Jacob, seu irmão de Brasília, me dê um abraço.

Ela destravou a cara e correu, não para mim, mas para o interior da casa.

– Mamãe, mamãe, tem um homem, é meu irmão de Brasília.

Lá vinha minha mãe, com seu vestido molhado. De voz chorosa e soluçada, mal disse:

– Meu filho!!!!!

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