CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

A CEGUEIRA DO CONFORTO

O conforto, produto de uma vida de regalo, é, por vezes, egoísta. Quem o tem tudo faz para preservá-lo. O conforto muito se devota à manutenção da sua opulência para, desse modo, não perder seu status quo. O olhar do conforto é assaz vigilante em relação à preservação da sua comodidade, porém desleixado em relação ao desconforto daqueles alvejados por toda sorte de escassez, daqueles que figuram no catálogo dos padeceres.

O poeta João de Lima, cuja literatura poética encerra comunhão, todo se devotou às causas e ações caritativas:

“Se um dia chegar no seu abrigo
Um pobre pedinte de esmola
Com a bolsa na mão ou a sacola
Não indague a vida do mendigo
Dê um quilo da massa do seu trigo
Que Deus lhe dará um armazém
Não critique nem mangue de ninguém
Tenha fé, esperança e caridade
Se quiser alcançar felicidade
Esqueça do mal e faça o bem. ”

“Contemple nos outros a beleza
Se seus olhos são limpos e perfeitos
Não enxergue somente os defeitos
Nem aumente nos tristes a tristeza
Faça sempre um gesto de nobreza
De virtude, amor e igualdade
Espalhando a semente da bondade
Nesta terra tão santa e dadivosa
Seja puro e meigo como a rosa
Perfumando a ingrata humanidade”.

Ao desarquivar esses dois decassílabos, rendo singela homenagem ao ilustrado poeta João Ferreira de Lima, (1902-1973), cuja desencarnação, aliás, deixou assaz desarrumado o coração dos seus seguidores.

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, (Saramago).

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