A PRIMAZIA DO SECUNDÁRIO SOBRE O PRINCIPAL
Consta da literatura de Administração que o diretor de uma certa indústria editou ordens severas para que tudo que saísse da fábrica passasse por rigorosa conferência dos vigias da portaria principal.
Diariamente, ao término de cada expediente, o faxineiro da fábrica comparecia à portaria principal conduzindo um carrinho de mão abarrotado de entulho. Os vigias, então, eram instados a inspecionar o lixo, por vezes esvaziavam o carrinho para terem a certeza de que debaixo do entulho não havia produto de furto. Finalmente, depois de liberado pelos vigias, o faxineiro prosseguia até o contêiner, na área externa da fábrica. No dia seguinte a operação se repetia.
Decorridos alguns meses um dos vigias deparou-se, noutra cidade, com o dito faxineiro, agora ex-empregado da indústria. Vendo-o muitíssimo bem estabelecido quis o vigia saber o motivo de tanta prosperidade, ao que o faxineiro respondeu:
— Consegui prosperidade depois que furtei diversos carros de mão e os vendi; você conferia apenas o lixo que estava dentro deles, mas nunca procurou saber se eu os devolvia à fábrica. A bem dizer, você se agarrava ao secundário e abandonava o principal.
Pois bem, os meios de comunicação informam ininterruptamente que os leitos dos hospitais se encontram completamente ocupados. Se isso não é real inverídico é que não é. Porém, essa maneira amiudada de enfatizar a lotação não avaliza dizer que os leitos existentes correspondem, quantitativamente, às reais necessidades de cada unidade hospitalar. Assim, por exemplo, criar uma creche com apenas cinco vagas numa cidade de dez mil habitantes pode ser suficiente para ensoberbecer políticos, inflar os seus egos; para atender necessidades reais, não. Isso de enfatizar a lotação plena pode até conformar alguns olhos apassivados, caso do vigia; outros, nem tanto.
A propósito do sufoco que pauta a existência dos hospitais, tomo o alvitre de pôr em visibilidade de lupa, malgrado o amplo conhecimento geral, uma amostra de como reduzir a bandalhos as instalações dos hospitais do Brasil. Trata-se, exemplificativamente, do estádio de futebol MANÉ GARRINCHA, aqui em Brasília, obra faraônica cujo custo, diga-se, (de construção e manutenção), é desproporcional à sua utilidade.
O aparatoso “elefante branco”, edificado graças ao suado contributo dos pagadores de impostos, tem como serventia precípua albergar morcegos, visagens, sombras, abantesmas, fantasmas, além, é claro, de escarnecer brasileiros que, entrincheirados em leitos hospitalares, se acham em escaramuças renhidas com a morte.
Obras de serventia desventurada como o MANÉ GARRINCHA, aliás fruto de inconsciências lamentáveis, expressam o velho hábito, de governos mal-avisados, que consiste em receitar em gabinete fechado aquilo que se supõe ser melhor para as comunidades, malgrado as vozes discordantes destas, relegadas ao olvido.
Enquanto este primoroso monumento ao futebol, (feito para a diversão, esporádica, de poucos) ostenta ares de solene indiferença ao seu desaproveitado uso, os hospitais, vivendo no trapézio, operam em condições precárias, eventualmente em espaços tão comedidos quanto cascas de nozes.
Lula e seus asseclas se comportaram desta forma por terem a certeza absoluta que, fora os coniventes e os mamadores ( ui Caetano e Gil, vide Nana Caymmi ), o “resto” da população Brasileira é um depositário de otários.