CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Este colunista, aos 10 anos, fantasiado de índio

Os momentos inspiram os cronistas. Nestes dias em que os índios brasileiros saíram de suas malocas para se integrarem aos problemas políticos dos brancos, vieram-me à mente cenas de longínquo passado, vivido há mais de 70 anos. Há meus tempos de infância!

Eu brincava inspirado nos filmes de “Tarzan, o homem-macaco” – protagonizado pelo inesquecível Johnny Weissmuller – personagem que vivia nas selvas africanas e realizava proezas incríveis, sobretudo utilizando os cipós das árvores como veículos para seus deslocamentos aéreos.

Quando menino eu desejava ser um índio tipo Tarzan.

Num dos carnavais daqueles anos, minha mãe imaginou uma fantasia para mim, onde só havia – de índio mesmo – um cocar. Tornei-me um indiozinho de estilo mal engembrado, pois me apresentei de alpercatas sertanejas, meia camisa com bordados por ela mesma criados e uma calça comprida.

Ainda mais: no dia da foto colocaram em minha mão, para identificar que era carnaval, um lança-perfume “Rodouro”. Fui durante três dias um índio estilizado.

Muitos anos depois, durante uma reportagem em Pernambuco, fui conhecer uma aldeia. Queria completar meu desejo de ver um índio de perto, seus modos de vida, sua gente. Mas a decepção foi incrível. Um dos índios era o vereador Aniceto. E para ser fotografado teve que mandar buscar o cocar na casa de um amigo. Além do mais, se submeteu à câmera de paletó e gravata. Foi nos acompanhar à aldeia.

Não havia malocas, mas casas simples iguais às dos “caras-pálidas”. A cacica, D. Hilda, mulher de uns 60 anos, em trajes de u’a pessoa comum, nos recebeu sentada num batente da porta e pés no chão. Nada de índia!

A entrevista foi decepcionante. De suas origens pouco sabia. Não me senti num aldeamento Pankararu. Para completar improvisaram uma dança de roda, formada por crianças fantasiadas. Aquela coisa sem graça. Depois nos mostraram uma bandeja com artesanato para comercializar.

Aquelas cenas me levaram ao completo engano. O desejo de estar numa maloca de fato, com índios guerreiros, vivendo longe da civilização, caçando com arcos e flechas, nem imaginar.

Esperei muitos anos para ver um grupo indígena e me decepcionei com os índios de minha terra.

Porém, que vi há poucos dias em Brasília, com grande tristeza, foi nossos xavantes se arvorando ao direito de serem “homens-brancos”, participarem da política, invadirem propriedades públicas, não respeitarem nossas regras e xingarem autoridades. E como castigo, a gaiola dos “brancos”.

No tempo de criança, em tempos de plena inocência, senti-me um indiozinho ao me vestirem para ser indígena durante três dias de carnaval. E todo pronto para um baile infantil fui a meu pai me apresentar. Muito gaiato ele indicou-me a tribo que eu pertenceria:

– Você vai ser um cacique da tribo Papa-capim!…

2 pensou em “ÍNDIO PAPA-CAPIM

  1. O exotismo da fantasia do cacique “Papa-capim” não consegue eclipsar a beleza exuberante do menino Carlos Eduardo. Parabéns ao amigo e irmão/Família Satélite, por mais uma crônica Cheia de Graça e de fatos históricos. Abraços desde Fortaleza. Boaventura.

  2. Escrevi-lhe longo comentário sobre o assunto e ao ilustrá-lo dei um clic de mau jeito e apagou tudo.

    Fá-lo-ei, porém, logo mais, escrevendo no word e aplicando a ilustração, para lhe mandar.

    Bom domingo amigo e grato pela generosidade dos seus comentários.

    “É muita honra para um pobre marquês sem nome”, como diria meu velho.

    Carlos Eduardo

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