Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
“Parece Sexta-Feira de Paixão.
Sempre a cismar, cismar de olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe …
O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por estar contente! Pois então?! …”
Quando se sofre, o que se diz é vão …
Meu coração, tudo, calado, ouviste …
Os meus males ninguém mos adivinha …
A minha Dor não fala, anda sozinha …
Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera! …
Os males de Anto toda a gente os sabe!
Os meus … ninguém … A minha Dor não cabe
Nos cem milhões de versos que eu fizera! …
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Uma pessoa com depressão sente uma dor terrível
Aos outros parece coisa boba, um capricho.
Tenho para mim que é a pior doença de todas, pois rege todas as outras.
Florbela teve muitos defeitos, porém era coerente em seus poemas.