O parque no outono
O homem.
Quem é o homem e o que veio fazer na Terra, além de ter retirada uma das costelas (quem retirou essa costela – se ainda não havia Cirurgião?) ?
Seria ele uma estrela cadente, ou apenas e simplesmente um Homem?
Crio borboletas. Crio borboletas mil. Nunca vi uma borboleta “matar” outra da sua espécie, tampouco um ser vivo de espécie diferente.
E o homem – por que um homem “mata” outro homem?
Por que os homens não viram borboletas, e saem a voar, sem pesos à carregar?
Pois, a magia de Deus se fez borboleta no início da tarde de ontem, num campo onde as folhas do outono caídas das árvores se transformavam num tapete, constantemente modificado e multicolorido pelo vento.
Sentado num velho banco em desuso no parque, onde as folhas conversam umas com as outras, numa linguagem que só a ingenuidade do amor traduz e entende, um homem de roupa simples, envelhecidas pelo excesso de uso, chapéu na cabeça, óculos escuros e uma bengala à mão pronuncia:
– Que coisa linda esse sol, nesse casamento com o vento!
Nisso, uma jovem que passeava no parque, parou a bicicleta e indagou:
– Ué, você é cego mesmo? Como está vendo isso?
Continuando sentado, o Homem apenas respondeu:
– Eu sou cego, sim. Mas o amor enxerga todas as coisas.
“O amor enxerga todas as coisas”.
Perfeito como as borboletas.
Schirley, o amor vê tudo (porque, como diz a parábola de Saint-Exupèry: “só se vê vem com o coração”), e sente tudo. Até o que diz o vento!