Querida esposa que ouvindo está
Roubou-lhe o tempo a jovial beleza,
Mas tem o dote da maior nobreza
Sua bondade não se acabará.
Morrerei breve, porém Deus lhe dá
Força e coragem com a natureza
De no semblante não mostrar tristeza
Quando sozinha for viver por cá.
Não tenho terra, gado, nem dinheiro,
Só tenho o galo dono do terreiro
Que a madrugada nunca ele perdeu.
Conserva esposa, minha pobre herança,
Seja bem calma, paciente e mansa,
Você não chore, que este galo é seu.
Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, Assaré-CE (1909-2002)
A gente associa o nome de Patativa aos cordéis, mas ele como sonetista era genial, também.