MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

Não sei se com esta opinião irão me classificar como gado, bolsominion, extremista, terrorista ou se corro risco de ver a PF batendo na minha porta por ordem de Alexandre de Morais, mas na última quinta-feira dei uma entrevista na rádio Metropolitana de Caruaru para falar sobre a taxa de compras de US$ 50,00, que são enquadradas no Programa Remessa Conforme. A proposta ficou conhecida como “taxa das blusinhas” e, como é do conhecimento de todos, a proposta foi aprovada pelo Congresso e aí a gente começa a pensar em algumas coisas.

Primeiro, as importações da remessa conforme importavam em algo da ordem de 0,5% das importações nacionais e o valor de compra, R$ 270,00, considerando o dólar em R$ 5,40, é irrisório para uma taxa tão alta. Portanto, se você fizer uma compra de R$ 270,00, seu custo final será R$ 369,90, quase R$ 100,00 a mais. Vamos insistir: o volume de compras nesse limite é significativo para uma taxa tão alta? Quem compra produtos importados até US$ 50,00 está em que faixa de renda? Talvez, o governo queira ganhar em escala, ou seja, aquela situação na qual o preço do produto não é tão alto, mas o volume de vendas, sim.

A taxação de um produto tem diversos objetivos. Quando você taxa uma empresa que lança detritos num rio, então existe uma política pública envolvida. A taxação sobre a comercialização de cigarros, por exemplo, tem um importante efeito na redução dos custos com recursos públicos na área de saúde. A taxa tem, também, a finalidade de proteger o mercado interno. Natural: se uma pessoa vai ter um custo de R$ 369,90 por um produto que custa R$ 270,00, é mais barato compra aqui que não precisa pagar os 20%. Lógico.

Vamos para a terceira pergunta: o governo fez isso no sentido de proteger a indústria local? Não. Isso é efeito indireto e não garante que haverá aumento de vendas internas por isso. Na verdade, o governo lembra muito uma marchinha dos antigos carnavais que dizia: “ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí”. O que existe é uma sanha arrecadatória para cobrir rombos criados pelo próprio governo. Estou errado? Vejamos.

Medida Provisória 1227/2024 foi devolvida pelo senado com a argumentação de que, por ser tributária, deveria observar o período de 90 dias para entrar em vigência. Questão técnica, bem observada. No entanto, qual o propósito dessa “pobre menina”? Acabar a compensação do PIS/CONFINS que as empresas usam para honrar outros tributos.

Vamos fazer uma analogia: todo mês você recebe seu salário descontado do Imposto de Renda. No ano seguinte, entre abril e maio, salvo exceções, você faz os ajustes da declaração de renda anual, ou seja, você vai dizer, quanto ganhou no ano, incluindo férias e 13º salário, quanto pagou de impostos e com base nas despesas realizadas, prevista na lei, o sistema da receita federal calcula quanto, de fato, você deveria pagar de impostos e aí faz um encontro de contas: se o que foi debitado mensalmente do seu salário for inferior a este cálculo, você tem imposto a pagar, caso contrário você tem imposto a ser restituído.

De forma simples, o propósito da MP 1227/2024, fazendo uma analogia, era SIMPLESMENTE não devolver o excesso de imposto que você pagou. Agora, veja o seguinte: o ICMS como um imposto estadual, tem lá as suas diferenças. Por exemplo, em Pernambuco o ICMS é 17%, em São Paulo é 12%, entre as compras realizadas entre esses dois estados, gerava um crédito de ICMS. No caso do PIS/COFINS é análogo: as empresas pagam esse imposto sobre faturamento e aí quando se consideram descontos, devoluções, etc. acaba-se gerando um saldo que pode ser usado para quitar os impostos da mesma esfera. Cabe lembrar que isso deve ficar mais complicado que esse novo regime fiscal proposto.

Vamos avançar: no fim de maio, o governo declarou que iria taxar a previdência privada no caso de herança, ou seja, se o titular do benefício morrer, os herdeiros do título pagariam impostos. Diante da reação, o governo voltou atrás. Então, se a gente for olhar as ações que são impetradas pelo governo, vai ver que o objetivo é aumentar a receita. Só isso, mas depois de 18 meses, o ministro da fazenda – que só conhece economia porque estudou dois meses para passar no teste da ANPEC – e a ministra do planejamento – que dizia que o presidente era corrupto – declararam que o governo vai avançar na política de contenção de gastos. Seja sensato, imparcial, honesto com sua consciência e diga se você acredita nisso.

Falou-se em cortar gastos e o presidente já disse que “gastos sociais” não serão cortados e eu fiquei sem entender como foi que cortaram gastos do programa Farmácia Popular que dava remédio de graça e os preços desses remédios era como uma “blusinha” no programa remessa conforme. Pergunte-se: um governo 38 ministérios, com ministros envolvidos em corrupção como ministro JUCESLINO CU DE CHEQUE – que não foi demitido, mas foi defendido publicamente pelo chefe – com escândalo na tal licitação para importar arroz, não cortar gastos desnecessários… o governo contingenciou R$ 5 bilhões de reais de educação – as universidades federais estão em greve a 72 dias – cortou gastos da saúde, cortou gastos da Farmácia Popular. Acrescente-se: o orçamento de algumas universidades só chega até setembro, próximo.

Agora, Pare, Pense e Olhe: se o governo quer proteger a indústria doméstica taxando compras de produtos importados de até US$ 50,00, POR QUE VAI IMPORTAR ARROZ? Esse governo tem capacidade de implantar controle de custos? Vejam que uma diária no hotel onde o casal se hospedou, na Itália, custou R$ 71 mil aos cofres públicos.

Esperem chegar janeiro/2025 e vejam o tamanho da merda que vai ser quando Roberto Campos Neto sair do Banco Central. A dívida pública atingiu 76% do PIB. Imagina você ganhar R$ 1.000,00 e dever R$ 760,00. Vai fazer o que para se sustentar no mês seguinte? O governo faz assim: toma dinheiro emprestado, aumenta impostos etc. mas, se recusa a reduzir os seus gastos. Depois, seus partidários se queixam porque a taxa de juros está alta e ainda aparece uma Miriam Leitão da vida para dizer que a inflação tá caindo (em maio foi 0,46%, maior do que em abril, 0,38%) e no acumulado de 5 meses temos 2,72% o que projeta uma inflação anual de 6,65% quando a meta do governo é 3%.

7 pensou em “HAJA TRIBUTO

  1. Por falar em marchinha de Carnaval, a equipe econômica parece querer mudar a letra daquela famosa na voz de Carmen Miranda para “mamãe eu quero, mamãe eu, mamãe eu quero cagar.”
    E haja!

  2. Nobre Assuero, vc é verdadeiro em sua explanação, não ataca, não agride, mostra a realidade desse país, e quem o faz é perseguido, continue pois conhece do traçado, é seu campo, tem autoridade para fazê-lo. .

  3. Mauricio…você conhece o quadro de Hyeronimus Bosch chamada de ” A nau dos insensatos”, ou a “Nau dos Loucos”….., pois então, Pindorama está assim. O eleitor colocou no timão dessa nau os mais loucos e incapazes de pilotá-la. Agora começamos a colher os frutos de nossa insensatez.
    Nenhum povo foge das consequências de seus atos. Nenhuma nação age de maneira impune diante da história quando resolve sabotar-se e sabotar o futuro de sua gente. Sempre haverá consequências, sempre haverá resultados que devem ser colhidos, sempre haverá frutos amargos, amaríssimos a serem mastigados.
    Esse quadro que hora se nos apresenta foi alertado ene vezes por quem possui um “cadinho” mais de sensatez, mas foi desprezado, com discursos vazios, com promessas tolas ditas a tolos. E assim, o Brasil está se aproximando de um arrecife, de um iceberg gigantesco, com os remadores da nau dando tudo de si para puxar os remos, enquanto os timoneiros dessa nau brincam de governar, usam o poder só para tirar o máximo de vantagem desses remadores. Vamos todos a pique, se nada for feito. Você falou em janeiro de 2025, eu estou prevendo o desastre já para setembro deste ano.

    • Roque, eu concordo. Nau dos insensatos. Vai piorar, infelizmente. O ministro da fazenda disse que prefere os ensinamentos da 25 de março a um diploma. Pesquise: a 25 de março é uma das ruas com mais assaltos em São Paulo.

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