Nesta quinta-feira, dia 8 de maio, o Vaticano soltou a fumaça branca: Habemus Papam! Logo depois foi anunciado que Robert Francis Prevost, Agostiniano de Chicago, tornava-se o 267º papa da Igreja de Pedro, adotando o nome Leão XIV. O primeiro papa americano!
Imediatamente nas redes sociais começaram debates – ou opiniões fortes e contundentes – sobre o lado político do novo papa Leão XIV. Tudo se resume a isso hoje em dia, não é mesmo? Apoiou Kamala ou Trump? Condenou a deportação de imigrantes? É “mais um” papa comunista?
Cada um vai ter sua conclusão, seu veredicto. Vou apenas mencionar algumas questões. Em primeiro lugar, o nome, inspirado em Leão XIII, gerou suas próprias dúvidas. O papa Leão XIII foi criador da “doutrina social” na Igreja, autor da encíclica Rerum Novarum no final do século 19. Li a encíclica, ou trechos dela, quando era um “objetivista” seguidor de Ayn Rand, uma ateísta libertária. Ela, desnecessário dizer, odiava tal encíclica. Mas se forçar a barra dá para enxergar socialismo até em alguns encíclicas do papa João Paulo II, nosso herói anticomunista!
A Igreja, afinal, sempre vai condenar o dinheiro como novo deus, o “bezerro de ouro”, e foco prioritário na vida. Vai, também, condenar transformação de tudo em mercado, com produto a ser vendido ou comprado. Caridade não está à venda, não tem preço. Chamar a atenção para os excessos capitalistas não é o mesmo que defender o socialismo!
Vejamos se pode ser mesmo um socialista quem escreve tais linhas: “Os socialistas, para curar este mal [o mal das condições precárias dos trabalhadores], instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida”. Isto, declarou a Igreja, “é sumamente injusto” e “o remédio proposto está em oposição flagrante com a justiça, porque a propriedade particular e pessoal é, para o homem, de direito natural”.
Ele continua: “O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. Isto é uma aberração tal que é necessário colocar a verdade numa doutrina contrariamente oposta”.
Alguém que como o papa Leão XIV se considera agostiniano, que teve sua tese de doutorado sobre Tomás de Aquino, e o simples fato de ser americano, num país em que católicos em geral aprendem a defender bem seus dogmas em meio às hostilidades protestantes, normalmente não será um revolucionário socialista. Acho bem pouco provável que esse seja seu legado. Aliás, observando os pequenos símbolos, o novo papa se apresentou com o anel e os cordões dourados que seu antecessor, um jesuíta, se recusou a usar.
Sim, o papa Leão XIV já teceu comentários mais “progressistas” sobre imigração, ou já abraçou os sínodos que alguns mais conservadores condenam. É um missionário, atuou com os pobres peruanos por dois anos. Mas o que parece ser mesmo sua característica é sua moderação, seu desejo de servir como ponte entre os opostos, ou seja, um conciliador moderado. E talvez a Igreja precise exatamente disso nesse momento!
É cedo para avaliar qual será a marca de seu papado, mas seu rosto exala bondade genuína, e isso é bom sinal. E é preciso lembrar, inclusive a meus colegas conservadores, que nem tudo se resume à disputa política atual. Ou seja, o legado do papado de Leão XIV não pode ser antecipado perguntando se ele votou em Trump ou Kamala! A César o que é de César, mas Cristo veio trazer as boas novas do Reino de outro mundo. De quando em quando parece que muito católico esquece disso, querendo ver a Igreja como uma extensão do seu partido. E esse não é definitivamente seu papel.
A missão do papa não é atuar para favorecer Trump na luta contra a China, mas sim evangelizar, atrair mais ovelhas para a Igreja de Pedro, solidificar seus pilares. Jesus queria salvar a alma de cada indivíduo. Não vamos esquecer essa nobre missão, que não deve ser confundida com campanha política para nosso partido preferido…
Esta análise, do R. Constantino, está mais afinada com as minhas posições sobre o Papa Leão XIV.
A Igreja não existe para tomar partido. Não é uma questão de ser “Isentista”, algo que eu abomino, mas ser evangelizadora e propagadora da doutrina cristã.
Deu vontade de voltar e ler tudo outra vez.