O Poeta pernambucano de Caruaru Ivanildo Vilanova, um dos maiores nomes da cantoria nordestina na atualidade
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Ivanildo Vilanova glosando o mote:
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro.
No sertão quando o solo está enxuto
Sofrem dois elementos de uma vez
Falta líquido pra língua de uma rês
Chovem gotas dos olhos do matuto
Ser humano padece, sofre o bruto
O segundo bem mais que o primeiro
Se dos olhos caísse um aguaceiro
O problema estaria saneado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro.
Dá um nó emotivo na garganta
Quando a época da chuva vai embora
Sobra lágrima nos olhos de quem chora
Falta água na cova de quem planta
Se dos olhos cair não adianta
Que não enche cacimba e nem barreiro
Cresce mais a angustia e o desespero
Vendo o bicho sofrer sem ser culpado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro.
Se repete esse drama no sertão
Fortaleza abissal dos aperreios
Os olhares humanos estão cheios
Mas os rios e poços não estão
Uma gota do céu não cai no chão
Ressecando inda mais o tabuleiro
Muge o boi mas da água nem o cheiro
Chora o homem com pena do coitado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro.
Um vaqueiro soluça de manhã
Sem ter água no poço ou na cascata
Anda até seis quilômetros com uma lata
Perde as forças na aventura vã
Vê tombando de sede uma marrã
Uma vaca uma cabra ou um carneiro
E um garrote pertinho de um facheiro
À espera do líquido esverdeado
No sertão falta água para o gado
Porém sobra nos olhos do vaqueiro.
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Marcilio Pá Seca Siqueira glosando o mote:
O caderno do tempo é testemunha
Dos bilhetes que fiz pensando nela .
No caderno do tempo eu anotei
Cada frase de amor que fora dita
Rascunhei no papel deixei escrita
E num cofre fechado eu arquivei
Outro dia lembrando eu acordei
Vi nos velhos papéis o rosto dela
Reabriu a ferida da sequela
Como garras de fera que azunha
O caderno do tempo é testemunha
Dos bilhetes que fiz pensando nela.
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Maurício Menezes glosando o mote:
Não há verso no mundo que retrate
A grandeza do povo sertanejo.
Procurei encontrar inspiração
Num recanto de terra pequenina
Pra fazer um poema em descrição
Das histórias da vida nordestina
Mas olhando para a força dessa gente
Vi que um verso não é suficiente
Pra mostrar a beleza do que vejo
Um poema seria um disparate
Não há verso no mundo que retrate
A grandeza do povo sertanejo.
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Manoel Bentevi glosando o mote:
O mundo só está prestando
Depois que eu não presto mais.
Quem é novo e tem dinheiro
Faz na vida o que bem quer:
Nunca lhe falta mulher
Neste país brasileiro.
Se eu fosse moço e solteiro
Vivia nos lupanais
Nos cabarés, nos fuás
Com as meninas brincando
O mundo só está prestando
Depois que eu não presto mais.
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Lenelson Piancó glosando o mote:
Ninguém põe tornozeleira
No pé do meu coração.
A mulher, de vez em quando
Fica brava e cria asa
Me põe da rua pra casa
Fica na praça dançando.
Essa mulher tá pensando
Que eu nessa situação
Não vou atrás de um colchão
De uma doida que me queira
Ninguém põe tornozeleira
No pé do meu coração!
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Dalinha Catunda glosando o mote:
Duvido ter um vivente
Pra mentir mais do que eu…
Um dia me montei nua
E no cavalo do cão
Sobrevoei o Japão
Mas meu destino era a lua
No bicho sentei a pua
Ele logo obedeceu
O dragão me recebeu
Mas capei ele no dente
Duvido ter um vivente
Pra mentir mais do que eu…
Passei a infância toda
Achando que a minha mãe
Gostava de pés de galinha,
Comia com tanto gosto
Chupava até os ossinhos.
“Ninguém come os pés, são meus”- dizia
Toda a carne dividia
Peito, coxas e titela,
Fígado, coração e muela,
Mas os pés, os pés era só prá ela.
Depois de todos servidos,
Então sentava e comia.
Mas o tempo foi passando,
A criançada crescendo,
Os maiores trabalhando,
A vida foi melhorando.
Depois de uma infância dura
Começamos Ter fartura.
Vi minha mãe na cozinha
Tratando de uma galinha
E ao contrário de outrora
Flagrei aquela velhinha
Jogando os pézinhos fora
Ao notar o meu espanto
Aquele coração santo
Da minha doce mãezinha
Apressou-se em explicar:
“Nunca gostei do tal do pé de galinha”
É que a carne era tão pouca,
Prá tantas bocas não dava,
E prá você não ficar triste
Eu fingia que gostava.
Sobra sempre pra mulher
ser “Mãe” essa condição
Sempre sobra pra ela o dever,
a devoção
Eu me pergunto aqui
pra o Pai uma questão:
Por que não ele também
devotar-se por inteiro
Dividir com a mulher um pé da ave
trazido do galinheiro?
Fonte: @biam_f
Link da Imagem:
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Excelente trabalho. Parabéns, poeta!