Ministra Gleisi Hoffmann está irritada com deputados da base aliada que assinaram requerimento de urgência para anistia
O casal Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann – ela, ministra de Lula; ele, líder do governo na Câmara – está furioso, considerando absurdo que haja deputados da base do governo, de partidos que recebem ministérios em troca de votos a favor do governo, assinando o requerimento de urgência do projeto de lei de anistia. Com a urgência, o projeto não fica enrolando em comissão especial; vai direto para o plenário, para ser votado, por exemplo, na próxima semana, depois da Páscoa.
As lideranças vão decidir isso, porque o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) já disse que lava as mãos como Pilatos, pois tem rabo preso no Supremo. Muitos estão estranhando, noticiando e revelando que ministros do Supremo estão pressionando deputados, lembrando que inquéritos e denúncias estão em uma gaveta que pode ser aberta a qualquer momento. Pois é: basta não ter rabo preso para trabalhar direitinho e com liberdade.
Mas digamos que o governo fique furioso com quem assinou o requerimento e tire os ministérios dos partidos desses deputados. Se fizer isso, essas legendas não votam mais com o governo. E o governo terá quantos votos na Câmara? São 513 deputados; Lula já disse que pode confiar em 120. Isso dá, no máximo, 25% de adesão ao governo. Se Lula retaliar os partidos de quem assinou o requerimento, não vai ter mais voto na Câmara. O governo não tem muita margem de manobra; a massa de manobra do governo é a pobreza. É por isso que as escolas ficam fazendo militância em vez de ensinar o que é necessário para a pessoa subir na vida e ter mais renda.
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Escola seria porta de saída do Bolsa Família, se ensinasse o que realmente importa
As cidades estão cheias de gente com diploma que depois vai trabalhar no Uber, fazer entrega como motoqueiro, porque precisa de escola profissional para ensinar profissões que são bem pagas. Mas aí o governo perde o controle. O governo gosta da relação entre cliente e pai, gosta de fazer paternalismo com o dinheiro dos pagadores de impostos, uma minoria que sustenta milhões de beneficiários do Bolsa Família, um programa que não tem porta de saída. Lula visitou uma montadora japonesa e disse que não se pode viver eternamente de Bolsa Família. Por quê? Porque ele viu a estatística, sabe que mais de 7 milhões de famílias estão no Bolsa Família há mais de dez anos e não saem. No governo anterior, o ministério do Onyx Lorenzoni tinha um projeto para haver a porta de saída. O Bolsa Família seria apenas uma emergência para o brasileiro pobre passar aquela fase e se preparar para ter uma fonte de renda.
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Cada crise de Bolsonaro é como se ele levasse uma nova facada
Jair Bolsonaro está caminhando, mas vai ficar mais um tempinho no hospital. Foi tudo corrigido, mas a melhora não é definitiva, isso não vai ter cura. As tais aderências e dificuldades no trânsito no intestino delgado aparecerão de novo, como consequência de cada cirurgia. Ele é muito forte, mas é como se a faca de Adélio entrasse nele todos os dias; Bolsonaro não vai escapar disso nunca mais.
E insisto na pergunta. A administração da Câmara dos Deputados – o presidente à época era Rodrigo Maia – podia exigir que a Polícia Legislativa apurasse tudo. E seria fácil saber que gabinete registrou a presença de Adélio Bispo na Câmara no dia do atentado. Se não investigaram, houve algum motivo para não terem esse trabalho, esse incômodo. Foi para preservar alguém? Foi por razões familiares? Foi por não gostar de Bolsonaro? Pois é. Cada vez que Bolsonaro tem uma crise, é como se levasse outra facada. Adélio desferiu a facada original e todos sabem que ele não estava só. Mas é preciso que se saiba a verdade, porque do contrário a pergunta continuará sempre no ar.