Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Mote de Antônio Poeta
O poeta Marcílio Pá Seca Siqueira, pernambucano de Tabira, desenvolvendo o mote acima, enviou-me a seguinte glosa:
Casa velha de taipa abandonada
Já não és tão bonita como era
Nem de longe tu lembras a tapera
Que serviu pra meu povo de morada
Vejo o tempo cruel dando pancada
Na madeira ruída dos portais
Os morcegos pousando nos frechais
Cada qual ocupando seu espaço
Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Este colunista, acaryense do Seridó Potiguar, respondeu-lhe com duas glosas no mesmo estilo.
Ei-las:
A madeira que um dia pai subiu
Para ser o sustento do telhado
Sobre o chão é somente um pau quebrado
Sob o pó do telhado que caiu.
A coluna do centro se partiu
Arrancaram as portas dos umbrais
Nem a cor das paredes se vê mais
Do reboco não resta nenhum traço
Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Sem soltar dessa velha cumeeira
Com as pontas olhando para o alto
Num lugar muito triste de ressalto
Restam só alguns tocos de madeira.
Nos tijolos da frente a trepadeira
Já subiu agarrando por detrás
Se expandiu pelas partes laterais
Sufocou a casinha nesse abraço
Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Só quem teve sua infância em casa de taipa consegue perceber a fundo a beleza desses versos
Nasci já em casa de tijolo rebocado.
Engatinhei e dei os primeiros passos no cimento queimado por vovô, pai de papai.
Mas conheci também logo cedo a realidade das taipas.
Parabéns pela beleza dos versos, querido poeta Jesus de Ritinha de Miúdo! Adorei o mote de Antônio Poeta!,
Uma ótima semana!
Obrigado por sua participação, Violante.
Há tempos que essa tabelinha encanta gregos e fubanicos. Acari & Tabira.
Rolou no Cabaré e descambou pro JBF. Dois cardápio de respeito.
É uma tabelinha perfeita – a lá Pelé e Garrincha… Bebeto e Romário. Aqui é nas letras, na poesia, na criatividade. Pura firula e engenhosidade de rimas.
Lembrei tanto da minha infância nas casinhas de taipa da minha praia onde eu pulava de casa em casa descobrindo os aromas que na casa asséptica de cerâmica dos meus pais, eu passaria a minha vida e nunca haveria de sentir.