CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Virgínia Lane na sua alcova esperando o presidente Getúlio Vargas para dormir

Anos trinta e quarenta. Épocas de grande efervescência na política nacional: golpe de estado de Getúlio Vargas, outorgação da “constituição polaca” de inspiração fascista, deposições de governadores, muita desconfiança entre os agentes públicos, “arranca rabo” e “debate boca” no meio político. Por essa época o ditador Vargas tomou conhecimento da existência do cabaré de Maria Bago Mole que se interessou em visitá-lo para conhecer a famosa cafetina dos quadris avantajados e dotes sexuais invejáveis, que estava revolucionando os hábitos no interior da Zona da Mata Norte de Carpina (PE), e as “meninas” do cabaré que, amiúde, eram a atração da casa, com seus rebolados sexuais picantes nos traseiros que deixavam qualquer homem intumescido, sem tomar catuaba.

Nessa época a vedete Virgínia Lane, sucesso como cantora no programa Garota Bibelô, na Rádio Mayring Veiga, depois estreante no programa Cassino da Urca, tornou-se a estrela mais famosa da Praça Tiradentes. Durante a temporada da peça Seu Gegê, grande sucesso musical na época, ela recebeu o título de “A Vedete do Brasil”, posto pelo presidente Vargas, que iniciou com ela um tórrido romance que duraria por mais de dez anos. Sobre esse relacionamento ela nunca falava aos jornalistas fofoqueiros. Revelando apenas em algumas entrevistas, que teve um caso amoroso com o ditador, e que nas horas dos “vucuvucus” teve de fazer sexo com ele na horizontal, porque na “vertical sua barriguinha atrapalhava.”

Quando soube que o presidente iria fazer uma visita ao cabaré da cafetina famosa, Virgínia Lane enciumou-se de forma tal que contratou alguns guardas barra pesadas das noites cariocas, com recursos pagos pela União. Ordenou-os viajarem para investigar as relações do presidente com essa cafetina tão “atraente” no Nordeste sem lei e sem alma, e os instruiu para se aliar aos homens mais poderosos da região para tirar “essa piranha e suas meninas do caminho do seu homem,” que se dizia estar em missão oficial para conhecê-la.

Nessa época, o comissário Juvenço Oião, que havia assumido um cargo na polícia que lhe deva plenos poderes de agir em nome de um decreto do ditador e os coronéis começaram a ter vez e voz, se juntaram para acabarem com a “farrumbamba” do coronel Bitônio Coelho que, segundo aqueles que não lhe iam com a cara, pretendiam armar uma cilada para matá-lo e brecar o poder político de Maria Bago Mole que, com a política econômica do cabaré em vento e popa, estava provocando inveja nos fazendeiros que odiavam Seu Bitônio Coelho e sua ascensão política.

Nada de excepcional aconteceu naquela noite que o chefe da nação visitou o cabaré. Saracoteou com as meninas do cassino a noite inteira, atraiu a atenção dos trabalhadores do campo, vez ver aos coronéis que desavenças só leva ao caos e a desordem. Os coronéis, falsamente, deram-se as mãos em nome do progresso e da nação. Os cabras mandados sondar o ambiente por Virgínia Lane para ver se havia traição caíram na gandaia e tudo no final acabou em festa de corrida de boi, com Juvenço do Oião desmoralizado com seus capangas, o coronel Bitônio Coelho protegido por sua amada entrou no aposento sem ser notado e o presidente Vargas foi a atração da festa, que amanheceu o dia com o povo o ovacionando nos arredores do cabaré.

Naquela noite o presidente Vargas mostrou porque era o pai dos pobres, menos para Seu Bitonio Coelho e outros coronéis antenados, que o consideravam um ditador habilidoso e sanguinário, disposto a tudo para se manter no poder.

Rodrigo Constantino: Getúlio Vargas foi um câncer na política brasileira

7 pensou em “GETÚLIO VARGAS VISITA O CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE E PROVOCA CIÚME EM VIRGÍNIA LANE

  1. Eita Ciço, meu bom compadre:
    Rapaz, sua verve é prenhe de inspiração. Como você consegue descrever tão bem essas estórias? Claro, só mesmo uma mente brilhante como a sua.
    Imagino o rebuliço no cabaré da Maria Bago Mole pela visitação do barrigudinho e os ciúmes da Virginia Lane. Haja ferro!
    Abraços bitônicos,
    Magnovaldo

  2. O maior atraso do Brasil é esta Carta del Lavoro (CLT) que penaliza os Empresários e engana os Trabalhadores com FGTS, férias, INSS, 13° salário, aviso prévio e outras banalizes. Além de tudo temos a infame justiça do trabalho, o maior cabidão de empregos de apaniguados do governo.

    • Caríssimo comentarista José Roberto,

      Tenho um grande amigos, e dos bons e das letras jurídicas, que há dez anos confessou para mim essa assertiva:

      Amigo Cícero, a CLT e outros derivados dela decorrente foi o maior cancro que alguém lunático e tirano, poderia ter criado contra uma nação, seus empregadores e empreendedores… os homens que produzem progresso e riqueza…

      Getúlio Vargas foi essa desgraça.

      Forte abraço, amigo,

  3. Virginia Lane,mas podem chamar de Coelhinho Teco-Teco. Foi vizinha de Sancho (já bem velhinha). Morou a vedete por bom tempo em Piraí-RJ e Volta Redonda-RJ. Meu tio Lourencinho a conheceu quando eram jovens e disse que a bela era do balacobaco e que tinha pernas de fazer largar a batina até aspirantes a papa.

    • Sancho, querido. Pança, também querido,

      O mestre é o cronista que mais intende das noites cariocas. Aliás o mestre é o carioca da gema, melhor do que Ruy Castro. É o mestre operístico, como diz o genial D.Matt., que lhe tem uma admiração.

      Confesso-lhe toda minha admiração numa palavra: Alegoria. Até a narrativa de uma partida de futebol nas suas crônicas soam admiráveis.

      Forte abraço. Abraçaço.

  4. Eu ia escrever alguma coisa, mas desisti diante o excelente artigo//comentários maravilhosos e afirmo, isto tinha que fazer parte de trabalho obrigatório em Universidades/Faculdades de Pedagogia e afins, é pura história. O JBF não é apenas um “blog”, é cultura na vêia!

    • Estimado Marcos Fontes/DF,

      O blog dos Luiz Berto é uma confraria única nesse universo internético.

      Merece todos os encômios reconhecidos pelo estimado comentarista.

      Forte abraço, abraçaço.

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