Impressiona a ânsia com que algumas personalidades do meio técnico-científico-cultural brasileiro se arvoram de conhecedoras de tudo, mal sabendo diferenciar dado, informação e conhecimento, ignorando por completo, posto que contaminadas por inadequadas vaidades comunicacionais, o alerta sempre oportuno de Sydney J. Harris: “O verdadeiro perigo não é que os computadores comecem a pensar como seres humanos, mas que os seres humanos comecem a pensar como computadores”.
A advertência acima me faz recordar algumas panaceias e fórmulas mágicas mirabolantes oferecidas por lustrosos ispecialistas, os quais imaginam, equivocada ou convenientemente, que qualquer tecnologia de ponta pode dispensar a qualidade e a avaliação de um trabalho humano experiente e consolidado cientificamente. Fruto de anos de pesquisas e reflexões submetidas a um saber-fazer consistente e de efeitos sociais duradouros.
Os que ainda não se hipnotizaram pelos que torcem por uma informática-fim, nunca apenas meio, se encontram convencidos de que a única vantagem sustentável que uma organização possui é aquilo que ela coletivamente domina, a eficiência com que ela usa o que sabe e a prontidão com que ela adquire e usa os novos conhecimentos, apreendidos de um modo integral e perscrutador, sem os imediatismos cretinos provocados pela pandemia do COVID-19. Tudo isso a ratificar o pensar de Peter Drucker, segundo o qual o conhecimento está sendo identificado como a nova viga mestre da competitividade na sociedade pós-capitalista, posicionando-se essencialmente imbricado com atividades crescentemente comunitárias. Uma opinião que se consolida no ideário de Paul Romer, Prêmio Nobel, renomado economista de Stanford, segundo o qual o conhecimento é, hoje, o único ativo que aumenta com o uso, sendo considerado um recurso ilimitado. Ele era economista, nunca economerda.
Se, por exemplo, um profissional de razoável bagagem militar se considera capaz de exercer suas funções gerenciais em qualquer área, até mesmo no setor da saúde pública, poderá ele estar sendo vitimado por uma fixidez funcional, também denominada de “psicoesclerose”, um endurecimento de atitudes burocráticas, que inevitavelmente o levará a se manifestar, sempre da mesma maneira em qualquer ambiente de trabalho, através de justificativas superadas, sem um mínimo de criatividade executiva. É por isso que o professor-médico e psiquiatra John Kao, da Harvard Business School afirma em documento que “a teoria administrativa tradicional é analítica, movida por uma disposição mental administrativa tradicional, podendo causar danos irreparáveis em ambientes movidos pela criatividade”.
Concordo com entusiasmo com quem considera a informática um dos insumos mais revolucionários de todos os tempos, se bem utilizada para o aprimoramento do todo, sem as BOI – Bostejadas Opinativas Informacionais dos que anseiam por meros segundos televisivos.
Pois é Fernando, computador pensar como gente não quer dizer muito com a evolução da inteligência artificial, mas o que vemos de gente pensando como máquinas não é fácil.