ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Hoje de manhã, estava eu, no meu “Gesuíno Galo Doido” – assim batizei meu possante em homenagem a famoso personagem de Jorge Amado-, voltando para minha oca e assuntando as notícias de Pindorama. Como todo bom caeté, faço ouvido de tuberculoso para ver se sobra algum pedaço do toitiço do Sardinha, para meu repasto cotidiano. Aqui, acolá, sempre sobra algum pedaço da panceta do honorável bispo, e aí, não perco tempo: arrebato-o para minha degustação.

Mas, como dizia, bispando as notícias de Pindorama, ouvi sobre o pagamento da dita “bolsa família”, ou cala boca eleitoreiro como queiram chamar, principalmente agora que o arariboia de plantão proibiu falar mal dele. Como se as verdades ditas sobre ele fossem pior do que mentiras mentirosas e inventos inventados. Bem, como eu dizia, fiquei assuntando o assunto, e com isso minha memória avuou lá para o ano 2006, quando retornei para sala de aula.

Explico. Entre 1998 e 2006 trabalhei no órgão central da educação fazendo análises estatísticas – e aqui tenho que abrir um parêntese até para elucidar minha ignorância abissal em relação à Matemática, depois que nosso amigo fuxiquento, lá dos Zistados Zunidos, o Magnovaldo Bezerra, explicou para mim o que era um “dipolo elétrico”. Para mim, seria mais uma artimanha do tinhoso de casco fendido e cheiro de enxofre, mas não era nada disso -, e, apesar de ser um completo asno, batizado, comungado e crismado em Matemática, tenho enorme facilidade em fazer análises estatísticas, interpretar e colocar em Português aquele emaranhado de linhas, colunas, pizzas, cones, e por aí vai. E, como dizia, nessa época fazia análises estatísticas, tanto educacionais, quanto de investimento de recursos.

Em 2003, quando o iluminado senhor, grande timoneiro do futuro, luminar da sabedoria, arroz da inteligência e luz do conhecimento tomou posse e tentou criar o famoso “fome zero”, fizemos uma luta homérica para chegar a um formato final que pudesse ser gerenciado e operacionalizado. A ideia inicial era sair distribuindo sacos de comida, com ampla cobertura da imprensa e propaganda oficial. Nisto eu sinto falta de um senhor; o ministro da pasta do Desenvolvimento Social da época, Valfrido Mares Guia. Homem afável, bonachão e de fino trato, chamou todos os coordenadores estaduais da época – e este caeté incluso -, para pensarmos em um modelo que não fosse um pesadelo logístico e chegasse, de fato, a quem necessitava.

A semente do programa já existia, criada desde os tempos dos governos de coturno, depois refinados pela saudosa professora Ruth Cardoso, e uniu o Bolsa Escola do Ministério da Educação, o vale leite do Ministério da Saúde, o vale gás do Ministério de Minas e Energia e outros penduricalhos, rebatizados como um único programa chamado Bolsa Família. A ideia em si não é de toda má. Aliás, é excelente. E, para quem não sabe, programas de distribuição de renda como o Bolsa família é fruto da ideia de um liberal até o tutano – agora até me deu água na boca -, chamado Milton Friedman, da Escola de Chicago, e não de canhotinhas. Para qualquer canhota no poder como o bigodudo assassino de Caracas, ou o orelhudo tarado da Nicarágua, pobre tem mais é que morrer de fome mesmo, ou ficar no cabresto, tendo comida suficiente só para não morrer de fome, assim ele não se revolta.

Finda a implantação do programa, em 2006, solicitei a minha volta para sala de aula, pois não há coisa mais emburrecedora na educação do que cargo burocrático. Ele se entranha até as medulas, ou tutano, como queiram dizer, e, quando você menos percebe, está agindo no automático, sem parar para analisar, ou refletir sobre as ações tomadas, nem se importando se o resultado foi positivo, ou não. A minha briga, como analista era o monitoramento dos resultados e os feedback das ações feitas. Os gestores de processo só sabiam de uma coisa: tem dinheiro? Precisamos gastar!

Quando voltei para sala de aula, e acreditem, minha formação inicial é educador, ou seja, professor alfabetizador. Isso mesmo, já ensinei três gerações a ler, escrever e contar, e é muito gratificante ver uma criança que, quando chega na escola mal sabe segurar lápis e apontador, e depois de alguns meses, chega até sua mesa e declara: eu sei ler. E acaba lendo um texto para você. Essa emoção não há dinheiro no mundo que pague.

Pois bem, àquela época quando o Bolsa família ainda engatinhava, uma aluninha minha, sempre que faltava à aula, a mãe vinha correndo se justificar, ou entregar um atestado médico, pois o programa era vinculado a esse e outros condicionantes. Essa aluninha era beneficiária do programa, e, ao contrário de muitos, levava a sério as condicionantes. Quase não faltava, tirava boas notas, estava com o cartão de vacinação em dia e bem arrumada, limpa e saudável. E o tempo foi passando, ela sendo bem sucedida nos estudos, por fim acabamos perdendo vista um do outro.

Em 2022, com o fim do absurdo isolamento social malandro, imposto por governadores velhacos, sindicados vagabundos, guildas de espertalhões e justiça para lá de suspeita, encontro essa minha ex-aluninha, agora já uma mulher feita, com dois bacuris: um agarrado na saia e outro nos braços. Estava na secretaria escolar pegando uma declaração de matrícula para entregar na promoção social da Gloriosa Campo Grande, a fim de não perder o benefício da dita bolsa, que mais tarde Jair Bolsonaro iria rebatizar de auxílio Brasil, e logo em 2023 nosso iluminado, lente do saber, repositório do conhecimento, manancial de sabedoria, silo guardião de ética e moralidade iria rebatizar de Bolsa Família de novo.

Todos esses pensamentos “vinheram-se-me” à cabeça dirigindo meu poizé e corri para escrevinhar estas bobagens: Não tem como este país dar certo, nem em dois mil anos prafrentemente. Não há a menor chance do desenvolvimento ocorrer, enquanto programas que deveriam ser um auxílio temporário, tornaram se fontes geracionais de renda, sem que o beneficiário concorra para a sua manutenção. Aquilo que era para ser temporário, até a família poder “andar com suas pernas”, tornou-se fonte geracional de renda. Neste ano, já estamos na segunda geração de brasileiros que tem, como única fonte de renda, um programa social, que não oferece nem o mínimo para a sobrevivência de uma pessoa, quanto mais de uma família.

Um programa de transferência de renda geracional tende a empobrecer a nação como um todo, pois se há mais gente recebendo do que contribuindo, no longo prazo é insustentável. Tal qual a previdência social brasileira, é uma arapuca demográfica que, mais cedo, ou mais tarde vai se desarmar. E, como o governo não está nem aí para a geração de emprego e renda, e persegue quem quer produzir e gerar emprego, a pressão sobre programas sociais vão aumentar. O corolário dessa benemerência geracional é o colapso de todo o sistema estatal.

Como dinheiro não é tiririca que nasce depois de uma chuva, a pressão por mais impostos vai chegar a um ponto que toda a cadeia produtiva vai colapsar e emperrar. Aí faltará dinheiro até para comprar um band-aid para grudar no caeté que arrancou o tampo do dedão jogando futebol de rua. O colapso desse sistema está nos nossos narizes, mas todo mundo faz de conta que não vê. Um programa que intenta sustentar mais de uma geração com dinheiro de quem produz só gera como resultado mais mendicante estatal, mais pressão por dinheiro para atender um número maior de beneficiados.

Apostar em um programa social geracional é condenar a nação ao atraso, ao subdesenvolvimento e atiçar, com todo empenho, a fogueira caeté que existe em cada um de nós. Será pouco Sardinha para muito caeté faminto.

5 pensou em “GERACIONAL

  1. Eita Roque, meu q.c.c.c.t. (querido conterrâneo corumbaense, caeté e tupiniquim): Não conheço e, seguramente, não conhecerei jamais, um cabra de tão alta extração intelectual como você produzir um texto digno de uma tese acadêmica com tanta facilidade de compreensão. Quaisquer dos seus leitores não canhotistas já conseguirá visualizar a diferença entre a costela de uma capivara e o fêmur do seu sacudido bispo. Estou entendendo toda a dialética bolsista-esmolástica do governo bem mais do que um reles dipolo elétrico. Claro, graças à sua linguagem claríssima e bem colocada! Tenha uma semana prenhe de saúde, alegria e tutano nos ossos! Abraços.

  2. Roque, esse é um país de loucos, onde dois erros, se não fazem um acerto, pelo menos “enjambram” um….brilhante análise, pena que, do jeito que a coisa anda, nem desenhando o brasileiro vai conseguir entender. Pedem mais e mais, sem perceber que, no final, a conta é paga por eles mesmos.

  3. Dr. Roque, essa conversa não convence.
    Um ixpessialixta formado, diplomado e carimbado no método paulofreiriano disse que é só imprimir dinheiro que a falta de dinheiro é resolvida.
    Veja os exemplos de sucesso de Cuba, Coréia do Norte, Venezuela e Argentina nos quais a população vive na maior riqueza e ostentação.

    • Imprimir dinheiro faz bem…bem para burocrata. Canhoto não sabe que dinheiro é uma sucessão de troca de valores, cuja base é a confiança que aquele papel pintado tem uma garantia de valor. Imprimir papel pintado só leva a isso….impressão de papel pintado que não serve nem para limpar a bunda. A Venezuela é a Argentina que o digam.

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