Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer a razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
* * *
Este poema de Florbela Espanca foi musicado e gravado por Fagner
“SS”. Podem voar mundos, morrer astros …
O poema, na voz de Fagner, tocou a alma de muita gente e ainda toca.
Florbela e Fagner, uma dupla inusitada. Musica muito bela, assim como “Motivo” e “Canteiros”, de Cecília Meireles.
Fagner sempre cantou fora dos esquemas lacrativos da MBP e por isso os “cheirosos” do Dendê se afastavam dele.
Fagner tem meu respeito. Não que ele se importe com isso, mas eu sim.
Não consigo ler estes versos sem cantarolar mentalmente a melodia de Fagner.
Florbela era de extremos; na dor e no amor. Não conheço declaração mais eloquente e extrema do que estes versos.