FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Acho uma graça enorme quando vejo alguém, por necessidade de afirmação, ausência de autoavaliação ou cretinice grossa, autointitular-se de doutor, cientista ou coisa semelhante, antes da consagração dos seus pares, colegas e sociedade. Outro dia, numa solenidade de finzinho de tarde, um jovem, recém-despido dos cueiros do terceiro grau, proclamava-se cientista para uma plateia de sessentões, como se estes fossem um bando de abestados, sem qualquer lastro técnico, nem passado de estudos científicos. Diante da indagação de um dos presentes – Qual a definição de cientista? –, o jovem quase se enrosca todo, o riso se explicitando, de forma disfarçada, nos “olhares sérios” de todos os presentes.

Certamente o douto jovem, notabilizado por autoconsagração, desconhecia a definição de cientista de Yves Coppens, prefaciador do muito oportuno livro Penso, Logo Me Engano, de Jean-Pierre Lentin:

“Cientista é uma pessoa como qualquer outra, apenas dotada, no mais das vezes, de qualidades de curiosidade e de um espírito lógico que sua atividade de pesquisa só faz desenvolver, mas também carregada, às vezes, de defeitos de amor-próprio e de um espírito narcísico que sua obrigação de pesquisar só faz exacerbar.”

Em outras palavras: por menosprezar uma humildade sincera e desvalorizar as ferroadas de uma sempre saudável autocrítica, alguns deságuam num besteirol atlântico, de luminosidade pirilâmpica, que só brilha por trás, arrotando bosteiras (besteiras fétidas) de tamanhos os mais diversos.

No livro-vacina do Lentin acima citado, que retrata magnificamente a história do besteirol científico desde os tempos pré-socráticos, uma maquiavélica experiência é narrada. Um gozador grupo de professores do Instituto de Pesquisas sobre o Ensino da Matemática de Grenoble, França, propôs a quinze turmas de um curso primário e secundário local dois problemas de cálculo: O primeiro: “Num barco estão 26 carneiros e 10 cabras. Qual a idade do capitão?” O segundo: “Numa classe, há 12 meninas e 13 meninos, qual a idade da professora?” Os resultados são terríveis: apenas 10% dos alunos do curso primário responderam que o problema era de solução impossível.

Abismados, os professores decidiram ir mais longe. Entregaram os dois “problemas de cálculo” a professores de matemática que, no Instituto, faziam estágio. A desgraceira também foi geral! Muitos dos estagiários, desesperados por não encontrarem uma resposta cientificamente à altura dos seus conhecimentos, recorreram aos núcleos de processamento de dados, ficando todos com-puta-dor de cabeça, no frigir dos ovos.

Cientificidade e maturidade emocional são irmãs siamesas, inseparáveis.

A inesquecível pensadora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), autora do livro O Segundo Sexo, que deveria ser lido e relido nestes tempos de estupidificantes feminicídios machistas, proclamava um alerta aos pensantes mais velhos do mundo atual:

“Para que a velhice não seja uma irrisória paródia de nossa existência anterior, só há uma solução, continuar a perseguir fins que deem um sentido à nossa vida: dedicação a indivíduos, à coletividade, a causas, trabalho social ou político, intelectual, criador, evitando que façamos um retorno sobre nós mesmos.”

O futuro mundial pertencerá aos que pensarem e agirem de uma maneira totalmente diferenciada do momento presente. O mundo contemporâneo necessita ser integralmente reinventado pelos mais diferenciados procedimentos evolucionários. A ilusão da certeza deixou inúmeros com a cara no chão, posto que, para eles, sem a certeza o mundo ficará caótico. A mão invisível de Adam Smith dará lugar ao aperto de mão invisível, pois guetos de ricos e guetos de pobres jamais servirão para o bem-estar geral de todos. E o capitalismo sempre será seu próprio e pior inimigo.

Muita gente, na atual contemporaneidade, se imagina abelha, imaginando-se rainha no cenário mundial, quando não passa de um inseto, somente batendo assas para aparecer nos cenários midiáticos. Como se existisse pensação exibicionista.

Um recado final: nunca esmoreça a capacidade de ser permanentemente um curioso, um perguntador, sempre desenvolvendo novas habilidades e despertando novos interesses. Seja sempre, a la Raul Seixas, uma metamorfose ambulante. Jamais um rabolador exibicionista BBB – Barato, Babaquara e Babão.

PS. Uma proposta para o JBF: a divulgação de um mensal RPSB – Ranking das Putarias Secas Brasileiras!!! Faria um sucesso arretado de ótimo!

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