FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Um formiguinho franzino afogava-se num lago de pouca profundidade, embora para ele mais que abismal, quando vislumbra um baita paquiderme passeando bem perto da margem direita.

– Elefante, socorra-me!! Estou me afogando!!!!

– Formiguinho, querido, eu não estou conseguindo alcançá-lo! O que devo fazer??

Num raciocínio mais que rápido, sem qualquer preconceito sexual, o formiguinho estruturou seu processo salvatório:

– O lago não é profundo. Entre nele, e quando chegar perto de mim, bem em cima de mim, estique seu pinto, imaginando-se nos braços de uma elefoa bem boa, que eu me segurarei nele.

– Não vais ficar encabulado, formiguinho?

– De jeito algum, seu babaca!! Ande logo, senão eu me lasco todo.

O elefante seguiu rigorosamente as orientações do formiguinho. E foi um sucesso o salvamento daquele animalzinho tão trabalhador. Com direito até a foto em primeira página do pasquim A Selva, editado pela Bicho’s University, famosa mundialmente pelos seus dinossauros catedráticos.

Passado algum tempo, eis que o formiguinho sofre mais um bafejo da sorte. Ganha na sena, ficando pra lá de bem situado na sua cidade, abandonando até um antigo sonho: o de fazer concurso para professor de ensino superior. Com a bolada, comprou um baita BMW, óculos escuros, celular e umas meninas taradinhas, já freqüentadoras de um certo alto meretrício.

Todo pimpão, eis que, uma tarde, passando pelo local do seu acidente, o formiguinho deparou-se com uma situação absolutamente inversa. O amigo elefante, já quase sem fôlego, afogava-se numa parte profunda do lago, gritando desesperadamente por socorro:

– Socorro me acudam!! Tou me afundando!!! Help!!!!

O formiguinho, plenamente consciente do tamanho do seu pipiu, mais uma vez aplicou estratégia vitoriosa. Da mala do BMW, retirou um cabo de aço, atrelou-o ao paralama traseiro, atirando a ponta contrária na direção do pobre paquiderme, que já despendia os últimos esforços.

Mais uma vez nas manchetes dos jornais da selva, o formiguinho foi entrevistado por um ratinho falastrão metido a popular. Microfone em punho, forneceu a moral do acontecimento recente: quem tem BMW não necessita de pinto grande.

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