Ganhou o espaço a declaração da ministra da saúde sobre o caso de pessoas transplantadas que receberam órgãos de pessoas soropositivas. De certa forma a gente se espanta, mas relaxa quando a se lembra que estamos no Brasil. As coisas que acontecem por aqui não parecem obra do acaso, parecem mesmo é ser fruto da incompetência dos nossos gestores, da complacência do nosso judiciário e da cumplicidade absurda dos eleitores. Acredito, piamente, que o Hino Nacional precisa ser reescrito, atualizado, posto que aquele verso “verás que um filho teu não foge à luta” deve ser trocado por “verás que um filho teu não vai à luta”.
Nos idos dos anos de 1980, quando a AIDS se propagou intensamente pelo mundo, o Brasil despontou com uma campanha importante que serviu de modelo para vários países, principalmente, países africanos onde a gravidade foi maior. Naquela ocasião, grupos de riscos foram atingidos maciçamente, dentre eles os hemofílicos. A hemofilia é uma doença hereditária, atinge somente homens (quer dizer….), que se caracteriza pela dificuldade de coagulação do sangue e o sangue contaminado por HIV atingiu boa parte de pessoas, dentre estes alguns famosos como Henfil (o cartunista), Chico Mário e Betinho, seus irmãos.
Ter AIDS era ter uma sentença de morte. Pessoas famosas foram contaminadas, morreram jovens atores. Até que descobriram que um coquetel antiviral não cura, mas impede o vírus se propagar no organismo. A AIDS é controlada. Pessoas soropositivo buscam ter uma vida normal, tomando seu AZT uma vez por dia (creio!) e seguindo em frente.
A questão de doação de sangue passou a ter um controle mais rígido. Desenvolveram uma sorologia importante que investiga não apenas o HIV, mas também diversos tipos de hepatite e outras patologias. No caso da doação de órgãos isso também é praxe. Um controle severo como, de fato, deveria ser. Mas, eis que a ministra da saúde admite, publicamente, que há transplantados com órgãos doados por soropositivos. Quem falhou? Acho que essa é a pergunta imediata que devemos responder. Vamos abrir uma investigação. O Ministério Público do Rio de Janeiro já está se movendo nessa direção. Vamos aguardar.
O que é estranho nisso é que o laboratório fornecedor dos órgãos é de propriedade de um primo do ex-secretário de saúde do Rio de Janeiro. Recebeu R$ 19,6 milhões e sabe o que mais interessante? Não foi através de um processo licitatório, mas mediante um processo chamado TAC – Termo de acerto de contas. Nesse tipo de processo, o estado reconhece que te deve e manda te pagar. Pronto. Simples e eficaz para propagação dessa tão famigerada corrupção. O cara entrega o produto que quiser. Não há uma vistoria prévia para saber se o produto, ou serviço, atende as condições de uso. Pague-se. Obviamente, a compra fica superfaturada e parte do pagamento é entregue às pessoas diretamente interessadas.
Há casos criminosos nisso tudo. Primeiro, cabe lembrar os remédios chamados BO (bom para otários) que eram vendidos nas farmácias antigamente. Foi preciso uma CPI para acabar com esse tipo de comércio, mas basta você chegar numa farmácia que você verá diversas ofertas de tudo que não serve para nada. Depois foram as pílulas de farinha. Muitas mulheres tomavam anticoncepcional e, apesar disso, engravidaram. Como? Fizeram uma análise nas pílulas de um laboratório e descobriram que eram de farinha. Simples assim.
Na cidade de Caruaru, agreste pernambucano, a capital do forró, 30 pacientes que faziam hemodiálise faleceram porque o soro que tomava tinha água contaminada. Escândalo total. Sabe quantas pessoas foram presas por isso? Nenhuma!
Quem de nós não vê propaganda de remédios miraculosos na televisão, na mídia de modo geral? O que chega para mim de sugestões para tomar isso ou aquilo não é brincadeira. Um dia desses vi o resumo de uma entrevista que um médico deu num podcast falando nos 5 medicamentos que pessoas com mais de 60 anos não deve deixar de tomar. Dentre eles a creatina. Pois bem. A Associação Brasileiras de Empresas de Produtos Nutricionais avaliou 88 marcas de creatina que são vendidas no mercado e as empresas entraram na justiça solicitando que o laudo não fosse divulgado. Foi divulgado e 18 empresas foram consideradas impróprias. Veja bem: a pessoa compra um troço com a intenção de manter a saúde e ingere uma desgraça que acaba com a saúde.
É mais ou menos assim o caso dos transplantados. Fez o transplante porque o rim não funcionava mais e recebeu o rim de soropositivo, que foi adquirido de um laboratório cujo dono é primo do secretário de saúde. Os transplantados vão precisar de todo tipo de apoio e o dono do laboratório … bem, duvido muito que ele seja incomodado pela justiça. Pode até ser denunciado, mas vai recorrer da sentença o quanto puder até que ele chegue no STF e algum ministro faça um voto dizendo que a culpa é do paciente, posto que se tivesse uma vida regrada não iria precisar de um rim.
Caro Assuero, isso é Brasil e no Rio de Janeiro, está nítido que esse alguém faz parte do time e tem costa quente, não sofrerá uma dor dente.
Meu querido, o RJ está acabado. L monte de governadores presos por corrupção é fantástico. Continuam soltos e influenciando por aí
Assurero, você matou a pau em seu último parágrafo, resumiu de forma magistral o Brasil de hoje: “Pode até ser denunciado, mas vai recorrer da sentença o quanto puder até que ele chegue no STF e algum ministro faça um voto dizendo que a culpa é do paciente, posto que se tivesse uma vida regrada não iria precisar de um rim”.
Marcos, todos nós vimos Marcelo Odebrecht depor sobre como agia a Diretoria de Operações Estruturadas. E um ministro me andou anular tudo aquilo. Então, há chance de se culpar o transplantado.
Caro Assuero, concordo com tudo o que disse. Mas me permita uma pequena correção: o laboratório não vendia os órgãos, pois não podem ser objeto de comércio. O que eles faziam era testar o doador e fornecer laudo quanto a existência de doenças contagiosas, como AIDS ou epatite.
Desconfio que haja uma grande cadeia de corrupção, onde tantos recebem seus “10%”, que não sobra para comprar os reagentes. Na verdade,acho que os testes nem eram feitos, apenas usavam algum laranja para assinar os laudos.