Depois de deixar Clezão morrer – a defesa apelou nove vezes para ele se tratar em casa porque estava gravemente doente –, o ministro Alexandre de Moraes começou a mandar gente para casa, por razões de saúde, talvez por que não seja o primeiro caso. Até o homem que mandou matar a Marielle Franco já foi para casa, e foi rápido! A cabeleireira Débora demorou muito, mas a saúde que estava em jogo era a dos filhos. A Adalgiza não foi ainda, o estado dela está cada vez mais grave. Agora foi um pastor que tem de fazer uma cirurgia de válvula mitral, e não pode ser operado e voltar para o presídio, porque a recuperação exige muitos cuidados.
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Moraes revida Espanha negando extradição de traficante
Mas uma outra manifestação de Moraes está mostrando que ele não mudou muita coisa. Ele pediu que a Espanha extraditasse Oswaldo Eustáquio. A Espanha negou; três juízes de uma corte superior disseram que não, que o que ele fez não é crime na Espanha, é “crime de opinião”, questão política, e isso não justifica extradição.
Moraes estava para conceder a extradição, para a Espanha, de um traficante búlgaro preso em Barcelona e que depois veio para o Brasil – como era a tradição lá atrás: “na hora de fugir, fuja para o Brasil, lá é fácil para um criminoso chegar e ficar”. Cesare Battisti andava por aqui, no governo Lula, e foi até considerado refugiado político. Pois Moraes suspendeu a extradição do sujeito que estava preso, pronto para ser devolvido à Espanha, e mandou o sujeito para casa, em prisão domiciliar. E mais: interpelou o embaixador da Espanha, o representante do reino espanhol, para que explicasse por que não está mandando de volta o Oswaldo Eustáquio.
Claro que o embaixador da Espanha não vai responder. Ele nunca viu uma coisa dessas, estava esperando algo do Itamaraty, que é o mediador nesses casos de extradição. Rubens Barbosa, que foi embaixador em Washington e hoje está aposentado – os da ativa não vão falar nada para evitar uma punição –, disse que isso é um absurdo, que não pode esse tipo de ação direta. Mas já aconteceu com os Estados Unidos, naquela briga entre Moraes e as redes Rumble e X; ele interpela diretamente uma plataforma digital nos Estados Unidos, pulando todo o caminho via Ministério da Justiça do Brasil, Itamaraty, Departamento de Justiça dos EUA, Departamento de Estado dos EUA. Moraes age como se tivesse jurisdição sobre a Espanha e sobre os Estados Unidos.
E não adianta entrar em discussão sobre reciprocidade, porque um é traficante e o outro é considerado, pelas leis e pela Justiça da Espanha, um refugiado político, alguém que está sendo processado por uma questão política.
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Lula manda avião da FAB trazer aliada condenada por corrupção no Peru
Caso diferente é o da ex-primeira-dama do Peru, que chegou a Brasília nesta quarta-feira depois de ter sido condenada na versão peruana da Lava Jato, por receber propina de R$ 17,5 milhões da Odebrecht para a campanha eleitoral do marido, Ollanta Humala, que é de esquerda, como Lula. Depois que saiu a condenação, ela se refugiou na embaixada brasileira, e Lula fez toda a deferência, mandou um avião da FAB resgatá-la em Lima. Ela não usou batom para pintar estátua nenhuma em Lima; ela foi condenada a 15 anos por corrupção, pelos R$ 17,5 milhões. E o Brasil a recebe mesmo assim.
O Brasil se recusa a extraditar um traficante, dá abrigo a uma corrupta e fica bravo porque a Espanha considera que um brasileiro que Moraes queria ver extraditado é, na verdade, um refugiado político. Lula e Moraes estão fazendo uma fama muito ruim – ou, melhor dizendo, piorando a nossa fama. Já está ruim, e aí vem o pior.