PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Quero-te mesmo, amor, na ausência ou na presença,
com rumores de sombra, alarde ou desafios.
– Dormir num chão de luar à sombra de roseiras
ou sob os pirisais na baixada dos rios…

Assim te amo e te sei amando dia-a-dia,
acordada ou dormindo o germinal segredo.
E te abraço sem ter teu corpo ao meu, beijando
a saudade sem ser de quem se tem sem medo.

Amo-te mesmo, amor, no madrigal do tempo,
derrubando androceus e gineceus se amando
nas pálpebras do estio que o sono não acorda.

No teu dorso eu descanso a caminhada enorme
que fiz pra te encontrar – lábios ardendo em busca
da tua noite azul onde minh’alma dorme.
Amo-te mesmo, amor. Se me vens ou te vais.
Sinto-te à flor da pele e à superfície da água
que dessedenta o bem que nos lava o mal.
Amo-te e não sei quem és – teu nome nem origem.
Só sei que és homem são e me sabes mulher.
Que beleza este amor sem pranto nem vertigem,
sem princípio nem fim, nem dimensão sequer!

Adalcinda Magno Camarão Luxardo, Ilha de Marajó-PA, (1914–2005)

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