Sou filha da charneca erma e selvagem.
Os giestais, por entre os rosmaninhos,
Abrindo os olhos d’oiro, p’los caminhos,
Desta minh’alma ardente são a imagem.
Embalo em mim um sonho vão, miragem:
Que tu e eu, em beijos e carinhos,
Eu a Charneca e tu o Sol, sozinhos,
Fôssemos um pedaço de paisagem!
E à noite, à hora doce da ansiedade
Ouviria da boca do luar
O De Profundis triste da saudade…
E à tua espera, enquanto o mundo dorme,
Ficaria, olhos quietos, a cismar…
Esfinge olhando a planície enorme…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Florbela é o terreno árido e não cultivado onde só crescem plantas rasteiras e silvestres; seu amado o Sol a iluminar a Charneca para que esta tenha vida.
Ilusão de que a vida seria o amor entre criaturas apaixonadas entre beijos e carinhos.
No fim, Florbela é a Esfinge, a olhar a planície enorme a esperar seu amor.