PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Sou filha da charneca erma e selvagem.
Os giestais, por entre os rosmaninhos,
Abrindo os olhos d’oiro, p’los caminhos,
Desta minh’alma ardente são a imagem.

Embalo em mim um sonho vão, miragem:
Que tu e eu, em beijos e carinhos,
Eu a Charneca e tu o Sol, sozinhos,
Fôssemos um pedaço de paisagem!

E à noite, à hora doce da ansiedade
Ouviria da boca do luar
O De Profundis triste da saudade…

E à tua espera, enquanto o mundo dorme,
Ficaria, olhos quietos, a cismar…
Esfinge olhando a planície enorme…

Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)

Um comentário em “ESFINGE – Florbela Espanca

  1. Florbela é o terreno árido e não cultivado onde só crescem plantas rasteiras e silvestres; seu amado o Sol a iluminar a Charneca para que esta tenha vida.

    Ilusão de que a vida seria o amor entre criaturas apaixonadas entre beijos e carinhos.

    No fim, Florbela é a Esfinge, a olhar a planície enorme a esperar seu amor.

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