CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Capa do “Diário da Noite”

Entre a paixão e a obrigação de escrever, prefiro morrer com a paixão, mesmo sem remuneração.

Escrevi esta frase em 1956, quando me iniciei como repórter do “Diário da Noite”, tempo em que meu desejo era escrever sobre temas do meu agrado. Desejava ser um cronista do cotidiano.

Porém, ao ingressar no Diário da Noite, como profissional, constatei que não poderia escolher os assuntos. Teria que obedecer às determinações, a partir das escolhas do Secretário Luiz Teixeira, homem que decidia quase tudo na pauta diária da Redação.

Ser repórter não era meu ideal e sim ser cronista. Mas, o único meio para me firmar seria enfrentar os caminhos da reportagem, seguindo as determinações das pautas diárias.

E na função, me vi diante de obrigações pré-determinadas, o que a princípio, não me agradou muito. Mas topei. Mal sabia que iria enfrentar uma reunião histórica, em abril de 1959: a instalação do CODENO – Conselho de Desenvolvimento do Nordeste, que mais adiante criaria a SUDENE.

No dia anterior fomos avisados. Fui com outro foca, o Marlindo, e o fotógrafo Luiz de Melo. Nas cadeiras destinadas aos jornalistas, no auditório, estavam Dr. Nilo Pereira e Esmaragdo Marroquim. O Teatro Santa Isabel estava lotado. No palco, u’a mesa de reunião, com flores e linda toalha de linho.

Começaram a chegar os governadores da Paraíba, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe e da Paraíba e Pernambuco, como se fossem atores de uma peça. E na verdade eram personagens da História do Nordeste Brasil.

As cadeiras do palco foram sendo ocupadas sob orientação do pessoal do Cerimonial do Palácio do Campo das Princesas.

Em certo momento o público se levanta para aplaudir o Presidente da República, Dr. Juscelino Kubtschek de Oliveira, que se fazia acompanhar do economista Dr. Celso Furtado, autor do projeto que anos à frente impulsionaria a região Nordeste quanto aos setores da agricultura e da indústria.

Ao lado dos fotógrafos permaneci e não esqueço quando Diógenes Montenegro, do Diário de Pernambuco, me falou que estávamos vendo o momento que a História registraria como o mais significativo para tirar nosso povo da pobreza.

A primeira fala foi do Governador de Pernambuco, Dr. Cid Feijó Sampaio, cumprimentando os presentes, em seguida o Dr. Celso Furtado que agradeceu a presença dos governadores e anunciou:

– Passo ao sr. Presidente da República o documento que criará a SUDENE, uma autarquia especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, com sede e foro na cidade do Recife, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional.

Na sequência usou da palavra o Dr. Juscelino Kubtschek que de improviso comentou sobre suas ações de governo e o desejo de integrar várias regiões do Brasil através de projetos de desenvolvimento.

Mal poderia aquele “foca” imaginar que alí estava fazendo, por obrigação, uma reportagem, junto com seus mestres de jornalismo e colegas de função do “Diário da Noite” e hoje estaria escrevendo uma apaixonada crônica sobre aquele momento. Finalmente cronista!

Edifício-sede da SUDENE, Cidade Universitária, Recife

Nota – Criada originalmente pela Lei 3 692, de 1959, a SUDENE veio substituir o modelo dos dois órgãos precedentes a ela (GTDN – Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste e o CODENO – Conselho de Desenvolvimento do Nordeste). Foi idealizada no governo do Presidente Juscelino Kubitschek, tendo à frente o economista Celso Furtado.

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