FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Todo ser humano tem um determinado nível de discernimento. Entretanto, alguns, como dizia a minha saudosa vó Zefinha, são “abiscoitados”, não pensam em nada, somente em dormir, comer, urinar e obrar, sempre proclamando “foi Deus quem quis”, “se Deus quiser”, sem atentar minimamente para as causas, os fatos e feitos históricos provocadores, como se tudo fosse ficar como dantes, no Quartel de Abrantes, ou sob o comando de algum Braga Neto, hoje encarcerado por ter sido sempre, em sua caminhada, um brega nato.

Na atualidade, conforme explicitado numa contracapa de livro, “ocorrem fatos e notícias, paradigmas da sociedade e sentimentos individuais que estão constantes e cada vez mais em aceleradas transformações.” Sem uma análise criteriosa, eivada de muita serenidade crítica, tudo se tornando um emaranhado confuso, provocando angústia e desesperos, desistências, falências morais e violências, como se o fim de tudo acontecesse no dia seguintes, sem qualquer possibilidade de se alterar o estado das coisas acontecidas.

Para se ter uma ideia, basta dizer que, no Brasil, dos últimos cinco presidentes eleitos após a redemocratização brasileira e defenestrada a ditadura militar, apenas um mandatário, Fernando Henrique Cardoso, não sofreu impeachment, não foi preso, nem está sendo processado por arquitetar golpe militar. Uma análise social, feita sem sectarismos ideológicos, ressalta uma das causas básicas de tal humilhação brasileira: a ausência de uma cidadania consistente do eleitorado brasileiro, dada sua gigantesca analfabetização política, provocadora de um comportamento de manada, que nulifica um agir pensante quando diante das urnas, potencializando não cobranças das propostas feitas pelos eleitos em campanha, que pintam e bordam, apenas obcecados em seus ganhos salariais e nas futuras eleições.

Observemos outros exemplos: os atuais níveis merdálicos das novelas televisivas, as merdiocridades comportamentais dos programas de auditório, os fuxiquismos que emergem das entrevistas sociais, o nível educacional dos atuais jogadores de futebol e dos comentaristas e narradores dos jogos, a quase totalidade utilizando uma nulificante concordância gramatical e fazendo uso de um universo vocabular de causar pena e ódio. Fatores que provocam uma radical diminuição dos níveis ibopísticos de telespectadores críticos.

Outro dia, num congraçamento programado por um estabelecimento de ensino médio com seus alunos, como convidado indaguei a um grupo de vinte e poucos alunos quantos livros tinham lido em 2024, salvo os utilizados em suas séries específicas. O resultado me deixou inquieto: apenas quatro tinha lido integralmente um livro, enquanto outros três tinham por hábito apenas ler páginas esportivas de um jornal adquirido pelos pais nos finais de semana.

Para os diretores do estabelecimento particular de ensino, uma amizade curtida de longa data, indaguei como estava o nível de frequência à biblioteca da instituição, que possuía uma profissional graduada contratada e continha refrigeração em suas salas de leitura. A resposta foi chocante: pouquíssimos livros consultados durante a semana e minimamente levados por empréstimos, apesar de serem todos novos e bastante conhecidos.

Creio que o atual Nível Mundial das Comunicações Eletrônicas muito desfavorece o senso analítico de inúmeros, que apenas aceitam manadamente as informações transmitidas, sem uma mínima análise, ensejando a formação de forte alienação mental, sem conhecimento de como serão os amanhãs históricos dos seus derredores sociais. E como o assunto da moda, agora, é frevo, folia, cachaça, rebolâncias, esfregâncias, bolinagens, enfiâncias e barrigâncias, com ou sem nenhuma responsabilidade, só nos resta torcer por futuros melhores para todos os cantos do planeta.

Não sou contra carnaval, muito pelo contrário. Mas minha preocupação primeira é como será o depois do Reinado de Momo, num Brasil dotado de pouca leitura, quase nenhuma criticidade, muita odiosidade e muitos sectarismos vexatórios, com uma equipe ministerial nada convincente, com um atual mandatário idem, com ou sem chapéu, e uma juventude que está a necessitar de amplos conhecimento humanístico e tecnológico, para não ficar ao léu, indo para o beleléu dos amanhãs globais, sem eira nem beira, apesar da proclamada rebeldia evolucionária da Besta Fubana, do sempre atuante escritor Luiz Berto.

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