Deltan Dallagnol
“Não há uma relação direta entre a eleição municipal e a eleição nacional”, disse hoje o ministro de Relações Institucionais do governo Lula, Alexandre Padilha (PT). A constrangedora afirmação tinha apenas um objetivo: suavizar o impacto da derrota humilhante que Lula, o PT e a esquerda sofreriam no 1º turno das eleições municipais de 2024, encerrado hoje.
O PT não elegeu nenhum prefeito de capital no 1º turno, indo ao 2º turno em apenas quatro das 26 capitais brasileiras: Fortaleza, Natal, Cuiabá e Porto Alegre. Em todas elas, os candidatos do PT estão em desvantagem, aparecendo em segundo lugar. Enquanto isso, o PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), venceu em duas capitais já no 1º turno (Rio Branco e Maceió) e foi para o 2º turno em outras oito: Fortaleza, Manaus, Belém, Cuiabá, João Pessoa, Aracaju, Palmas e Goiânia.
Em Teresina, uma vitória considerada fácil para o PT, o partido foi derrotado em primeiro turno por Silvio Mendes, candidato de Ciro Nogueira (PP), mesmo com o petista Fábio Novo contando com o apoio triplo de Lula, do atual ministro e ex-governador Wellington Dias e do atual governador Rafael Fonteles. Foi uma derrota acachapante e humilhante do PT em um lugar onde acreditavam ser imbatíveis.
A força demonstrada pelo PL ao ir para o 2º turno em 6 capitais do Norte e do Nordeste, onde Lula e o PT sempre tiveram vida fácil, é um sinal preocupante para Lula, que, nas últimas semanas, abandonou completamente as campanhas de aliados petistas, causando desespero e debandadas dentro do próprio PT. O único evento recente de campanha em que Lula compareceu foi a caminhada com Guilherme Boulos (PSOL), no último sábado (5), na Avenida Paulista.
As duas grandes capitais com candidatos apoiados por Lula que se destacaram foram Rio de Janeiro e Recife, onde tanto Eduardo Paes quanto João Campos foram reeleitos no 1º turno com votações expressivas, mas suas vitórias não podem ser creditadas a Lula: ambos os prefeitos possuem forte carisma pessoal e agregaram diversos outros apoios além do PT, além de serem extremamente reconhecidos pelos eleitores.
Uma das cidades em que Bolsonaro mostrou mais força nos últimos dias foi São Paulo: os esforços de última hora do ex-presidente e do governador Tarcisio de Freitas (Republicanos) foram recompensados com a ida de Ricardo Nunes (MDB) para o 2º turno contra Guilherme Boulos, que conseguiu desbancar Pablo Marçal (PRTB), sem dúvida a grande novidade destas eleições municipais.
Embora não tenha conseguido avançar para o 2º turno, Marçal, a partir de suas polêmicas estratégias de marketing, conseguiu nacionalizar seu nome e se firmar como uma figura forte da direita, obtendo mais de 1 milhão e 700 mil votos, o que pode levá-lo a novos voos em 2026, caso decida disputar as eleições para deputado federal ou senador. Se escolher concorrer como deputado federal, pode se tornar um grande puxador de votos, possibilitando a eleição de uma bancada forte, o que torna sua candidatura bastante atrativa para partidos de direita. Tudo isso, claro, depende da manutenção de seus direitos políticos, diante da enorme quantidade de ações eleitorais movidas contra ele por adversários.
Em Curitiba, o candidato da esquerda, Luciano Ducci (PSB), ficou de fora do segundo turno, sendo superado por Cristina Graeml (PMB), que surpreendeu com uma votação de 31,17%. Curitiba terá agora um segundo turno entre Cristina e o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), que está na liderança com 33,51% dos votos e é o candidato apoiado oficialmente por Jair Bolsonaro, pelo governador Ratinho Júnior e que tem como vice o ex-deputado Paulo Martins, do PL.
Não poderia encerrar esta análise do 1º turno das eleições municipais de 2024 sem expressar meu orgulho pelo partido Novo, do qual sou embaixador: de acordo com os resultados até agora, ainda não consolidados, elegemos pelo menos 14 prefeitos e 203 vereadores em todo o Brasil, com 1 candidato a prefeito e 7 candidatos a vice-prefeito indo para o segundo turno em capitais e grandes cidades, como Manaus, Cuiabá, Santos, Jundiaí e Ribeirão Preto. Uma de minhas maiores alegrias foi a vitória do meu candidato a vereador em Curitiba, Guilherme Kilter, o segundo mais votado da cidade, com mais de 16 mil votos.
O resumo da ópera foi o seguinte: o 1º turno das eleições municipais de 2024 foi um vexame para Lula, o PT e a esquerda, e uma grande demonstração de força do campo da direita, onde se encontram conservadores, liberais, bolsonaristas e cristãos. Em comum, todas essas pessoas defendem o livre mercado, as liberdades individuais, a família, a liberdade de expressão e a contenção de abusos judiciais do Supremo. Os resultados de hoje mostram que o campo de batalha de 2026 já foi semeado: daqui a dois anos, colheremos os deputados federais e senadores que poderão, enfim, colocar um ponto final no regime de censura de AM.
“Não há uma relação direta entre a eleição municipal e a eleição nacional”, – Alexandre Padilha (PT).
A frase está certa e embute um mistério.
Como um presidente de um partido, com 60 milhões de votos há menos de 2 anos obtidos e com aprovação em alta, segundo institutos de pesquisa; não obtém uma única prefeitura de capital nesta eleição?
Um jantar romântico a luz de velas com Jandira Fegale (se for homem) ou com Sílvio Almeida (caso mulher) para quem tiver a resposta a este mistério.
Mais uma vez votamos sem o voto impresso. A fraude nas eleições para prefeitos e governadores ainda está em fase beta (em testes). Já as eleições para presidente a fraude está consagrada. Implantada com sucesso. E não duvido que a fraude para vereadores, deputados e senadores já esteja sendo compilada. Sem o voto impresso com contagem pública de todos os votos, em breve as eleições municipais, estaduais e federais estarão totalmente dominadas pelo “sistema”.