PARA OS TOGADOS, ODIAR PODE SER A SUA SEGUNDA NATUREZA
Com a flagrante e tão esperada descoberta do Gabinete do Ódio, não podemos esquecer de Julien Benda, que em clássico “A traição dos intelectuais”, não só coloca o ódio em quatro tipos de expressão: o ódio de classe, de raça, de nação e o ódio religioso.
Barroso e seus parceiros togados podem escolher uma ou todas as modalidades. Odiar pode ser para eles uma segunda natureza.
Benda chega a afirmar que o século XX foi o tempo da “organização intelectual do ódio”, dos ódios políticos. Acusados de falta de complacência, confrontados por terem se ser submetidos “às paixões políticas”, deixando de defender os valores da verdade, do bem e do direito da humanidade.
Vale destacar – e isso não nos é estranho – um homem chega a odiar a outro: pelas qualidades que não tem ou pelo grau acrescentado das qualidades que ambos têm.
Mas fiquemos com a expressão de Benda o ódio de um lado, o “ódio de partida”. O que odeio cria e recria razões para sustentar e amplificar seu ódio.
No caso de um Barroso se trata de pura imoralidade, precisamente porque seu ódio não tem qualquer justificação moral. É um ódio gratuito em sua maldade.
No caso, a vítima não produziu nenhuma contrariedade. Ao contrário é amado pelo povo, agiu com correção e coragem em favor dos mais necessitados dos mais prejudicados pela peste chinesa.
Barroso e seus pares tribunos em seus arroubos golpistas e fúnebres, podem ser explicados por Nietzsche, lepidamente: “Não podes odiar enquanto não dás dois caracóis por alguém. Para odiares, tens de considerá-lo igual a ti ou maior do que tu”.
Afinal, é preciso uma razão para odiar: “O homem enquadrado por uma ideologia pode odiar livremente e igualmente pode ter orgulho desse ódio”.
Podemos ampliar o leque das motivações do ódio. Ou alguém duvida que um Fachin, um Barroso e sabe-se lá quantos não leram o Manifesto do Partido Comunista (1948), que quase no final, resume o espírito da coisa:
”Tremam as classes dominantes diante de uma Revolução Comunista”. E, pouco depois dá o veredicto, que talvez tenha inspirado Cesare Battisti, ao matar a sangue-frio quatro cidadãos italianos em nome de um trem chamado Partido do Proletariado comunista.
Tão inspirador, ou talvez motivado pela quantidade de furúnculos que o atormentaram a vida toda, Karl Marx dá sua sentença:
– A história vai ser o juiz, e o proletariado, o carrasco.
Parece uma ironia, mas não é. Talvez porque os alemães financiava o golpe de Lênin, também versado na língua da Germânia, os 30 milhões de assassinados pelo regime se encaixavam na categoria dos proletários.
Mas essa história o ministro Barroso conhece com mais detalhes, afinal, em toda a literatura que mergulhou a humanidade passou se dividir em duas categorias a
“progressista” e a “reacionária”.
No nosso caso podemos não estar condenados aos gulags descritos e vividos por Soljenítsin. Mas sabendo como – sentimos na pele – que todas as propriedades verbais desta ideologia de ódio são tomadas de empréstimo à terminologia do direito penal tradicional e suas variantes.
Teríamos assim instituições jurídicas que, mantendo intactos os meios verbais e judiciários, de condenação e punição. Só que na quadra que vivemos a História se veste de toga e não mais julga. Primeiro escolhe alguém para odiar e, mascarada no “proletariado” se transforma no carrasco – sem a máscara, que é para poder escolher a quem salvar e a quem executar.