PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e sob este teto encontrarás carinho:
eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada…

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
há de ficar comigo uma saudade tua,
hás de levar contigo uma saudade minha…

Alceu de Freitas Wamosy, Uruguaiana-RS (1895-1923)

3 pensou em “DUAS ALMAS – Alceu Wamosy

  1. Um encontro fortuito, uma noite de amor sem compromisso para duas pessoas solitárias.

    Uma paixão fugaz.

    Será que isso é satisfatório?

  2. Mais um tristonho e romântico mancebo que morreu cedo, paravelmente de tuberculose.
    O mal do século XIX. Ô gente deprimida !

  3. Soneto lindíssimo, do poeta Alceu de Freitas Wamosy, Uruguaiana-RS (1895-1923)!

    Parabéns ao ilustre colunista Pedro Malta, pelo magnífico gosto poético!

    Grande abraço!

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