Decorridos mais de 70 anos que nos vimos pela primeira vez, no auditório do Teatro do Atlético Clube de Amadores, Dr. Valdemar de Oliveira permanece vivo em minhas melhores lembranças.
Eram 9h da manhã, do dia 15 de julho de 1953, quando muitas pessoas se aglomeraram no Aeroporto Militar do Ibura, no Recife, a fim de ver a partida do voo fretado que levaria a equipe do Teatro de Amadores de Pernambuco ao Rio.
Na pista, o Douglas DC-3 – PTA – (Papa Tango América) da Aerovias Brasil, de pescoço levantado, demonstrando altivez – em posição bem diferente das aeronaves de hoje, que podem ficar paradas na horizontal.
No Plano de Vôo: Recife-Rio de Janeiro, com parada para almoço em Salvador.
Eu tinha apenas 15 anos e me preparava para o que se assemelhava a uma grande aventura. Ficar longe de meus pais pela primeira vez; voar, que sempre fora meu desejo de criança e me apresentar como autêntico artista de Teatro, em palco da Capital da República, o Teatro Regina. Uma consagração!
Logo estávamos subindo a escada do avião e ocupando nossos lugares. Surge a primeira surpresa: os assentos inclinados. Distinta moça da companhia aérea distribui chumaços de algodão e me explica que servem para diminuir o ruído dos motores.
Ouve-se um estampido e pela janela vi fumaça saindo de um dos motores. Fiquei apreensivo, mas logo calmo, pois, Dr. Valdemar me explicou o porquê.
O Douglas taxia, acelera e vai levantando vôo calmamente. Começo a ver as casas ficando lá embaixo bem pequenininhas e as pessoas se tornam apenas pontos na paisagem.
O bicho toma o rumo do Atlântico, altaneiro, mas voaria sempre por baixo das nuvens, nos permitindo ver um espetáculo surpreendente, dos rios, montanhas, cidades e aeroportos.
Depois de poucas horas, pousamos em Salvador para o almoço. Pareceu-me um daqueles que oferecíamos aos visitantes americanos, em Boa Viagem, galegos ligados ao City Bank, meu local de trabalho.
Um banquete onde se acomodaram cerca de 25 pessoas. Nas mesas as bandeirolas da Aerovias Brasil para marcar os lugares.
Novamente no ar, mais uma aula com o professor Valdemar. Sobrevoavamos o estado do Rio de Janeiro,a cidade de Campos do Goitacazes, quando vi quadros de terra como se fossem pintados no chão.
Avião bimotor da FAB, modelo semelhante à aeronave em que este colunista voou
Fui à poltrona dele e perguntei o que era. Calmamente levantou-se, veio para a janela do meu lado e explicou que eram campos cultivados.Cena que jamais esquecerei.
Cerca de quatro horas depois de nossa partida do Ibura, sobrevoavamos as águas da Baia de Guanabara até desembarcar no Aeroporto Santos Dumont.
A partir daquele instante pude transpor os limites do sonho que hoje se transformou no mundo submerso de minhas saudades.
O Teatro de Amadores, meus colegas de cenas na peça “Sangue Velho”, D. Diná e Dr. Valdemar, o “Tio Velho”, personagem que era meu “pai de criação” na peça lançada no Teatro Regina, se tornaram pessoas inesquecíveis.
Sobretudo Dr. Valdemar, que permanece em minha mente, como o título que os médicos da Sobrames deram à homenagem post-morten representada pelo livro titulado: “Valdemar Vivo”.
Parabéns por mais uma belíssima crônica, meu amigo.
Fui aluno dos dois irmãos: Waldemar e Walter de Oliveira!
Bons tempos!
É sempre ótimo constatar que as crônicas promovem lembranças dos leitores e servem de IBOPE, para a avaliação do que interessa aos apreciadores das letras.