CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

PedrInho agraciado com o botton americano

Muito novo ainda, perguntei a meu pai o que significavam as medalhas que a gente ganhava participando de corridas de bicicleta, as quais aconteceram promovidas pelo Atlético Clube de Amadores, no Recife.

Fui informado que era um agraciamento. E completou explicando-me que seria uma ação resultante de algum feito importante na vida de um cidadão; no caso, ser o vencedor de uma competição atlética.

No decorrer dos anos, por vários motivos, tive o reconhecimento de méritos e fui agraciado com medalhas importantes, tanto no Atlético, quanto no Náutico e na AABB, além de troféus e Diplomas e Participação outorgados por entidades culturais.

Quando visitei a América do Norte, estive em Dallas, no Texa,s onde minha neta Patrícia e James, seu marido, me levaram às instalações da United States Mint (Casa da Moeda) uma das quatro oficinas de cunhagem e impressão de dinheiro, entre outras, localizadas na Filadélfia, Denver, São Francisco e West Point. A instituição também administra o depósito de metais preciosos, em Fort Knox.

Entre as funções daquela instituição, se incluem: produção de moedas nacionais e estrangeiras, em ouro; fabricação e comercialização de medalhas comemorativas nacionais; desenhar e produzir as medalhas de ouro do Congresso; salvaguardar e controlar o movimento de ouro no País; desembolsar ouro e prata para fins autorizados e distribuir moedas para os Bancos da Reserva Federal.

Nosso carro ficou no estacionamento, fomos recebidos por dois cordiais vigilantes. Após algumas perguntas regimentais (um discreto “baculejo”), assinamos um Documento de Responsabilização e seguimos num micro-ônibus do governo, veículo todo blindado, com um militar escoltando os visitantes.

Durante a visita – por ser repórter e historiador – indaguei muito e ouvi detalhes, inclusive sobre a qualidade do material empregado naquelas cédulas, desde a matéria-prima e os insumos, até os processos de impressão final, o que para os visitantes também foi um momento educativo.

Na minha memória apenas tinha o conhecimento de que os papeis utilizados para as diversas impressões, sempre foram: papel-jornal (no Brasil, usado até 1975, importado do Canadá), papel couché, Polen Soft, Offset, etc.

Entretanto, no fabrico de cédulas de dólares norte-americanos, não há papel. Exatamente, são fabricadas com 75% de algodão e 25% de linho, produto patenteado pela Crane & Company, que desde 1879, é a única fornecedora dessa matéria-prima; daí resultando sua durabilidade.

Bancário durante 30 anos, vivi o cotidiano de funcionários da Tesouraria, que trabalhavam na seleção de cédulas dilaceradas, as quais eram transportadas para o Banco Central, a fim de alí serem incineradas.

Tenho de memória alguns nomes daqueles colegas que viviam trabalhando em ambiente protegido por uma cerca de arame alambrado, que delimitava o espaço, para proteger as ações alí desenvolvidas.

Entre eles, Otacílio Venâncio, Renato Machado Maia, João Pires de Menezes, José Torres Galindo, Adolpho Moreira Couceiro, Mozart d’Olinda Campelo. Raimundo Alves da Costa, Benedito Alves Formiga, Raimundo Cordeiro de Brito, Luiz Gonzaga Mota, Luiz Moreira dos Santos e outros que já foram para uma pátria que se chama Eternidade.

No hall da fábrica de dinheiro que estávamos visitando, vimos uma exposição de cédulas e ouvi do oficial que nos acompanhou, “A História do dinheiro no mundo”. Como eu estava com antiga cédula de dólar americano na carteira, que há anos conduzia como talismã, houve uma coisa interessante.

Sendo descendente de mexicanos, o oficial J.R.Fridman achou melhor conversar comigo em espanhol, embora eu pudesse dispor dos meus tradutores particulares: a neta, o marido e o casal de bisnetos, Isabela e Set.

Tirei a velha cédula do bolso e a entreguei. Ele foi ao computador e identificou o ano de fabricação e os lugares por onde ela passou. Informou-me que era emocionante e rara tal cena.

Contei a curiosa história da chegada daquela cédula às minhas mãos. Havia sido encontrada no telhado de nossa casa, quando procedemos a um retelhamento. Fiz-lhe de presente. Mas ele me informou que iria incorporá-la ao acervo do museu da Casa da Moeda e me devolveria o valor correspondente, com uma cédula, nova.

Conversamos mais um bocado e lhe contei que aos 15 anos comecei a trabalhar no The First National City Bank of New York, Recife Branch of Brazil, e por influência de colegas americanos sempre sonhei em algum dia visitar os Estados Unidos.

No City Bank observei, pelos arquivos que eram minha função manter organizados, que havia também dólares em vários países e não apenas na América do Norte; mas também na Tchecoslováquia, Austrália; Canadá, Jamaica, Hong Kong, Nova Zelândia, Bahamas e Singapura, todos com seus sistemas de paridade próprios.

Depois, Freidman retornou, trazendo uma cédula correspondente ao mesmo valor e com ela, um botton que me presenteou, fixando-o na gola de minha camisa, informando que era praxe homenagear aqueles que contribuíram, de alguma forma, com o acervo da Casa da Moeda.

Na peça, estavam impressos os dizeres de identificação que se apresentavam rodeando a famosa águia, onde se lê: Great Seal of the United States (Grande selo dos Estados Unidos). Guardei-o como se fosse outro talismã.

Há poucos dias fui visitado pelo sobrinho Pedro Belém da Rocha Cordeiro, filho de Sophya e Clécio, “figurinha” que por mim se afeiçoou e sabia eu que, aos oito anos, ele já havia publicado o livro: “O reino da família humilde”. Resolvi, então, agraciá-lo condecorando-o com o botton recebido da Casa da Moeda dos Estados Unidos, pelo mérito de tão cedo já se destacar como um menino muito inteligente, já escritor.

Dias antes eu já havia presenteado ele e à mana Luiza, com um dólar-americano. E fiquei matutando: não é qualquer criança que pode possuir cédulas de dólares fabricadas com algodão e linho.

Um comentário em “DÓLARES DE ALGODÃO E LINHO

  1. Excelente crônica, meu amigo!

    Parabéns, mais uma vez, pelas instrutivas e divertidas histórias que conta!

    Parabéns ao Luiz Berto, por ser o promotor desse canal de comunicação tão democrático e importante, chamado Jornal da Besta Fubana!

    Cordiais saudações!

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