A republicação dessa crônica western spaghetti é uma homenagem ao mestre de Balneário do Camboriú (SC), D.Matt., comentarista magno do Jornal da Besta Fubana, encantado no dia 22 de maio de 2024 aos 93 anos. Crônica essa que escrevemos em parceria e a publicamos aqui no JBF em 23 de março de 2020.
Profundo conhecedor de filmes de faroeste spaghetti anos 60 e musicais clássicos da Broadway, Dirceu Mattos vai deixar saudades, por ter sido, em vida, autêntico defensor da Sétima Arte raiz, como a defendia Ricciotto Canudo, teórico e crítico de arte italiano, sem perder a elegância.
* * *
Capa do Blu-ray do filme no Brasil
A cena de abertura do epopeico faroeste do gênero spaghetti western, Django, é antológica: um lamaceiro escorregadio como cenário natural. A câmara focando um homem solitário, arrastando um caixão fantasmagórico pelo lamaçal caótico, acompanhado da antológica trilha sonora Django, composta pelo maestro argentino-italiano Luiz Enríquez Bacalov, apropriada para o clima sinistro da história do filme.
O filme Django conta a história de um andarilho misterioso, arrastando sua poderosa metralhadora pelo deserto, disposto a vingar a morte de sua esposa, assassinada por uma gangue rival que agia na região fronteiriça do México. Para conseguir seu feito ele fez “acordo” com o chefe da gangue comandada pelo general Hugo Rodriguez, bandido histriônico, calculista, ambicioso, contra seu oponente, louco, o Major Jackson, da gangue rival e seus mais de quarenta facínoras, sanguinários, que aterrorizavam a fronteira do México.
O longa é um dos melhores exemplos de filmes do gênero spaghetti western, com uma trilha sonora apropriada ao clima da história, duelos de armas e um anti-herói de poucas palavras, que arrasta um caixão mortífero. O visual magnífico do filme é devido ao trabalho do diretor de arte Carlo Simi, que já havia criado personagens e cenários para filmes anteriores do diretor Sergio Corbucci, como o “Minnesota Clay (1964)”, dentre outros.
Antes e depois da primeira cena antológica do confronto entre Django com a metralhadora e os mais de quarenta bandidos da gangue dos Camisas Vermelhas comandada pelo Major Jackson em frente ao Saloon do Nathaniel, ficou a impressão de que estávamos diante de mais um western lugar-comum, mas ante a competência do diretor Sergio Corbucci o que vemos é um filme com cenário de batalha expertise, épica, que até hoje fascina crítico e cinéfilo que o elogiam como uma obra-prima do spaghetti western.
Django é o primeiro, o único faroeste do western spaghetti a conquistar público e críticas favoráveis. Projetou o ótimo ator Franco Nero ao panteão dos deuses do faroeste numa época em que o romantismo reinava no faroeste americano. Todos logo identificamos o primeiro e o melhor da franquia. Sim, o nome Django tornou-se uma franquia, pois existem muitas dezenas de filmes relacionados ao personagem famoso, talvez chegue perto de meia centena de filmes, todos com adjetivos diversos, títulos chamativos, mas nenhum chegou perto do original que permanece eterno, com a matriz intocada, sem nada que possa abalar a sua merecida fama.
No ponto de vista cinematográfico, o único filme que chegou quase a merecer comparação com a qualidade do original, foi o filme “Django Livre” do diretor Quentin Tarantino. A comparação que se faz é apenas pela qualidade do filme, seus valores cinematográficos, seu ótimo elenco, que contou acertadamente com a participação do “Django” original, Franco Nero, numa pequena atuação, mas uma grande e merecida homenagem prestada pelo cineasta Tarantino ao grande ator, criador do personagem cujo nome, até hoje impressiona os aficionados do gênero. O filme cria um clima místico e quase sobrenatural, quando o personagem aparece do nada arrastando um caixão, com uma aparição fantasmagórica deixando todos os telespectadores surpresos. O diretor Sergio Corbucci soube segurar com muita competência e profissionalismo essa atmosfera sombria.
Nada de parecido tinha sido visto antes nos filmes do gênero western, e a expectativa vai num crescendo para todos os personagens do vilarejo e muito importante, também para nós os expectadores do filme, pois o que vai ou poderá acontecer é uma incógnita. Após a cena da batalha a campo aberto, onde o personagem caladão fulmina todos da gangue do Major Jackson com sua metralhadora caixão e, este, ao tentar fugir, é alvejado com um tiro de revólver e cai com a cara no lamaçal, levanta-se e sai correndo humilhado, é simplesmente genial.
Mas o diretor Sergio Corbucci mostrou que é um mestre, pois os fatos vão se sucedendo até que afinal o inesperado é revelado e coma sucessão dos acontecimentos, os vilões são enfrentados e como em todo bom filme de faroeste, o mocinho vence no final para satisfação de todos.
Ressalte-se ter sido lançado uma grande quantidade de filmes que levam o nome Django, com dezenas de atores que tentaram imitar o personagem-título do primeiro, mas nenhum deles possui a competência do filme e ator original. Não que não sejam bons atores, porque o personagem do primeiro é muito místico, sombrio, e o ator deu ao personagem principal uma áurea, um desempenho extraordinário que nenhum outro filme de faroeste conseguiu alcançá-lo.
Caro Cícero
Não sabia que o mestre D.Matt partiu dessa pra uma melhor em maio passado. Era um especialista em filmes faroeste. Aliás seu nome adotado indica isso.. Poderia ser Matt Dilon, Bat Masterson ou apenas o Kid Matt. Que descanse em paz sem nenhum duelo
Pois é meu estimado memorialista Brito, ele nutria esse grande desejo de encantar-se, alegava já ter vivido muito.
Segundo ele para mim e Altamir Pinheiro, sua permanência terrena já havia lhe sido uma grande dádiva divina.
Ouvi sua voz pela ultima vez no mês de setembro de 2023.
Dizia-me “não suportar outro gunverno lulis por mais tempo.”
Deixou-nos muitas saudades e sapiência, E HONESTIDADE!