PARADOXOS NO ESPORTE
O boxe, o MMA e outras modalidades de esporte , em que a força física é preponderante, oferecem exemplos interessantes do comportamento humano.
Após se destruírem, literalmente, no ringue, os lutadores, muitas vezes, se abraçam, alguns até se ajoelham, reverenciando o adversário, antes da proclamação do resultado pelos árbitros.
Desse embate, mesmo vigoroso, se extrai a conclusão de que, ali, existe competição feroz, mas não existe ódio entre os competidores e seus torcedores.
Paradoxalmente, vem do futebol o exemplo de repúdio selvagem ao próximo.
O ódio impede e desestimula qualquer sentimento de apreço pelo outro.
A agressão aos atletas do Fortaleza, no Recife, expõe, mais uma vez, a patologia, a indigência e a desumanidade de homens, que armazenam rancor no coração para destilá-lo contra pessoas com as quais jamais tiveram qualquer contato.
Freud advertira que o homem é agressivo e auto destrutivo, cabendo à civilização domesticá-lo.
A agressividade espantosa dos torcedores expõe a falência completa da educação disponibilizada no País e a certeza da inexistência de sanção. A ausência desta estimula a prática de delitos pelos agressores.
Educação deficitária não permite sequer ao indivíduo conter sua bestialidade, nem mesmo no momento em que se dispõe a desfrutar de lazer e da satisfação de assistir à exibição do seu time.
O art. 205 da Constituição assegura que a educação é direito de todos, dever do Estado e da família com a colaboração da sociedade, objetivando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A selvageria do ataque aos atletas do Fortaleza comprova que Estado, família e sociedade, todos falharam na missão de civilizar as pessoas para uma vida com menos violência.
O primeiro a falhar foi o Estado, ao deixar de disponibilizar escola de qualidade para todos e não punir, exemplarmente, os infratores da lei, estimulados à prática de novos delitos pela certeza da ausência de punição. Depois, falhou a sociedade por não compreender que educação é transmissão de saber e valores de uma geração para a outra.
Entre esses valores, a justiça como virtude, a solidariedade e o respeito ao dinheiro público são básicos e essenciais para contenção da agressividade e para a prosperidade de todos.
Enfim, é o preço pela falta de preocupação com a educação das crianças; pela ausência de estímulo para o cultivo da empatia e da probidade.
O resultado é o total desapreço pela vida das pessoas, agredidas, simplesmente, por fazerem parte de um clube diferente.
Os bárbaros dos estádios se propagam, é imperioso reiterar, pela ausência de educação e pela certeza da impunidade.
*Advogado e autor de diversos livros, entre os quais Distorções do Poder e Ética na Política. Procurador da Fazenda Nacional aposentado. Foi Procurador-Geral do Estado do Ceará.
Com todo o respeito ao nobre colega, apesar de não ter tomado conhecimento dos fatos narrados quanto as agressões, ouço apenas ponderar quanto a hierarquia das falhas: Educação escolar de qualidade, ainda que houvesse, apenas subsidiaria o erro primeiro, colocado por último pelo autor: “transmissão de saber e valores de uma geração para a outra”.
Enquanto continuarmos primeiramente colocando nos outros ou numa entidade coletiva pouco objetiva como “o Estado”, a responsabilidade primeira pela “educação”, nenhum investimento dos recursos financeiros e humanos geridos por este serão suficientes para reverter o quadro ou “criar” uma civilização que não seja auto-predatória.
Quer dizer, funciona bem, por algum tempo, em locais onde o estado é hegemônico e o indivíduo um ser difuso com valor apenas “perante a sociedade”, mas ai já é outra conversa…
Abraços!
Eu concordo plenamente com José Paulo. Não se trata de educação, apenas. São bandidos que se infiltram nas torcidas e vão aos estádios apenas com o instinto de selvageria. O ministério público acabou com torcidas organizadas, mas a mecha da violência, da covardia, da falta de esportividade continua acessa e brilhando nos gramados do mundo inteiro. Como podemos esquecer os hooligans na Inglaterra? Eram pessoas com educação melhor do que a nossa e nem por isso deixaram de exercer a violência no seu grau extremo. Como é possível que um jogador de futebol não possa sair livremente de campo se o timer perder?
No caso do boxe ou MMA, a turma se aquieta porque o cara já tá levando porrada mesmo e como já há uma parcela de violência ali, a torcida não precisa bater no lutador. Se ele perder, perdeu. O troféu é individual e não coletivo como no futebol.
Djalma Pinto, respeito as opiniões em contrário, mas reafirmo: violência se combate com educação e punição exemplar para os infratores. Educação como transmissão de saber e valores de uma geração para outra, a saber: 1) justiça como virtude, não faças com o outro o que não desejas que te façam; 2) solidariedade – se coloque no lugar do outro para sentir a sua dor e 3) respeito ao dinheiro público para formulação e prática de políticas públicas que melhorem a vida de todos. Países que compreenderam isso, antes de ensinar a criança a contar, já estão buscando que ela pratique a empatia e assimile esses valores. Especialistas advertem que a educação popular ou escolar deve assumir, com “toda urgência”, tais valores, nos regimes democráticos, para se ter, na prática, liberdade, igualdade e justiça. Nunca houve, entre nós, preocupação com a formação das pessoas para a vida em sociedade. Não há como deixar de reconhecer que, sem sanção pedagógica e educação de qualidade, o animal, que se oculta no homem prevalecerá nas torcidas de Londres, do Congo e no Brasil.!!!